ELEIÇÕES 2014
Como será conhecido no futuro o resultado das eleições de
2014? A “eleição do ódio” é um forte título, mas a “mais disputada” pode ser um
que muitos prefiram. Ambas as alternativas contemplam a perspectiva de
observação de muitas pessoas. Não sei como será daqui em diante, mas já
aconteceram duas passeatas pós-eleitorais. Algo nunca acontecido antes. A
direita saiu em São Paulo pedindo golpe militar ou impeachment sobre Dilma e,
alguns dias depois, uma parcela da esquerda deu uma resposta com outra passeata
com slogans socialistas. Nas redes sociais os debates (e combates) sobre as eleições
continuam e, da direita à esquerda, destila-se um ideologismo barato sem muita
consistência, mas propagador de uma boa dose de confusões.
Por falar em redes sociais, podemos concluir que o resultado
apertado favorável a Dilma só foi conseguido graças a elas. Milhões de
eleitores viraram militantes on-line. Claro que isso aconteceu com todas as
forças políticas envolvidas na disputa, mas os que apoiavam o PT esforçaram-se
mais. Sem ter espaço na grande mídia, usaram a pequena mídia com muito mais
intensidade. O apoio de uma direita ressentida, agressiva, racista e golpista
dado abertamente nas redes sociais ao candidato do PSDB assustou cidadãos e
militantes no Brasil inteiro. O próprio Aécio Neves em entrevista recente
(pós-eleitoral) declarou: “não ser de direita”, tentando desvencilhar-se de
Bolsonaro e seus seguidores fanáticos.
Sobre Aécio Neves pode-se afirmar que ele é um dos grandes
vencedores do pleito, mesmo com sua dupla derrota em Minas Gerais.
Excetuando-se FHC, ele foi o candidato do PSDB que foi mais longe em uma
disputa com o PT pela presidência. E olha que sua candidatura tinha tudo para
naufragar. O escândalo que envolveu seu amigo, o senador Perrela, com um helicóptero
cheio de cocaína, seria suficiente para abalar suas pretensões. Ele ainda teve
de enfrentar a possibilidade de não ir para o segundo turno com o fenômeno
Marina, surgido logo após a morte de Eduardo Campos.
No Congresso o resultado foi paradoxal. Em termos numéricos
o governo tem maioria: 304 dos 513 deputados federais eleitos são da base
aliada e 53 dos 81 senadores também. Mas em termos programáticos o Congresso
piorou. Aumentaram as bancadas conservadoras (ruralistas, evangélicos, bancada
"da bala”, etc), ou seja, grupos avessos aos movimentos sociais e a todas
as bandeiras progressistas. Tais grupos possuem aversão ao PT e foram seus
seguidores que organizaram a marcha pedindo um novo golpe militar. É bom não
esquecer que por “base aliada” entenda-se uma miríade de grupos que incluem
conservadores e oportunistas de plantão, que só estão lá porque possuem cargos
e influência no governo. O relacionamento com o Congresso talvez seja
tumultuado, mesmo o governo tendo maioria. Mas o governo tem fôlego, é bom
lembrar que uma parcela da oposição também pode ser comprada com cargos...
Não é difícil explicar o porquê desta eleição ter sido tão
acirrada. Um clima de “mudancismo” provocado pelas rebeliões do ano passado
aliado ao denuncismo midiático espetacularizado; um desgaste natural de um
partido que acumula doze anos no poder e um novo conceito de militância nas
redes sociais (por parte da oposição também) foram suficientes para ameaçar o
PT. Todo esse acirramento levou a que muitos refletissem sobre um Brasil que
teria saído dividido após as eleições. Mas o Brasil sempre foi dividido. Essa
divisão desperta e mostra-se em alguns momentos históricos, mas ela é
permanente. E não poderia ser diferente em um país cheio de contradições e com
uma concentração alta de renda e poder.
Aristóteles Lima Santana, 17/11/2014.
Um comentário:
Muito lúcida, a análise. Capta o essencial do que tem ocorrido do começo do segundo turno para cá e os problemas que deverão surgir, sobretudo com a tendência de conservadorismo que pode assolar o Congresso.
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