segunda-feira, 9 de setembro de 2013

INTERNET : A TERRA SEM LEI



INTERNET: A TERRA SEM LEI
O que é o “Universo paralelo”? Um lugar onde tudo é possível? Onde todas as regras podem ser quebradas? Onde posso ser e ter o que desejo? Parece que a internet é atraente para as massas porque em parte ela satisfaz a ilusão de conseguir viver em um mundo paralelo. Com o recurso do “photoshop” é possível apresentar-se com mais beleza do que aquela que se possui; com frases e posts bem escritos pode-se ser mais cortês e educado, talvez até mais sábio, do que se é; a menina (ou garoto) que não fica com ninguém em festas pode subitamente tornar-se popular com seus mil amigos no facebook.  O artificialismo parece que será um companheiro constante nesta época em que vivemos: rapazes tomam drogas para acelerar a construção da musculatura na academia; marketeiros mudam a imagem dos políticos tornando-os mais artificiais do que já eram; o “photoshop” faz milagres nas fotos e é largamente utilizado nas redes sociais, etc. Com toda esta valorização da artificialidade não é de se estranhar que a internet se torne uma febre. Ao apresentar-se como “mundo paralelo” ela permite a ilusão de ser outra pessoa e de ter outra vida.
Mas não apenas isso. A internet também libera monstros razoavelmente ocultos dentro de nós. A agressividade racista, homofóbica e machista se faz presente de forma ostensiva neste novo universo. Aquilo que não é falado no bar, na rua ou em casa (lugares reais) pode ser dito no mundo artificial paralelo. O rapaz, ou moça, homossexual libera suas fantasias, recalcadas na vida real, no twitter ou facebook. O homofóbico também libera seu ódio, reprimido no mundo real, contra eles nas mesmas instâncias. Liberar ódios reprimidos tornou-se uma mania nas redes sociais. E isso terá (tem) consequências na sociabilidade dos indivíduos. A tentação de fazer na vida real aquilo que se faz na vida paralela será sempre constante.
A internet parece que realiza um antigo desejo humano: encontrar um “não-lugar” (outro nome para Universo paralelo) onde tudo será possível. Todas as fantasias sexuais, inclusive as mais bizarras, serão realizadas; todos serão belos e felizes e todos notarão a sua presença no mundo. Sobre este último item é preciso afirmar que a privacidade é um crime nas redes sociais. Ser visto e ser notado é uma obrigação para o indivíduo. Uma nova (ou em novo formato) paranoia de massas.
Mas você leitor deve estar se perguntando: o que há de errado em realizar fantasias sexuais? O que há de errado em querer ser mais belo e feliz? O que há de errado em querer ser popular? Vamos por partes. Não há problema nenhum em realizar uma fantasia sexual desde que a parceira (ou parceiro) esteja de comum acordo. Nunca se esqueça que o estupro também é uma fantasia sexual, sem falar em outras bizarrices mais absurdas... Não há nada de errado em querer ser mais belo, feliz ou popular, desde que isso não se torne uma obsessão paranoica. Nunca se esqueça que existem pessoas que se sentem felizes ao humilhar outras e que matar alguém relativamente famoso é uma forma prática de conseguir popularidade. Além do mais o que o mundo paralelo da internet oferece não é a realização da fantasia, mas a ilusão dela. Todas as pessoas que usam o “photoshop” terão que se apresentar em seu formato real nas festas e eventos públicos... Também o excesso de padronização da beleza e da felicidade excluem todos os que não estão dentro dos padrões.
 O mundo paralelo não é distante de nós. Ele é, ao mesmo tempo, projeção de nossos medos e desejos interiores e realização prática tecnológica deles. Ele invade o mundo real com força e violência e modifica nossa sociabilidade. A explosão do problema do bulling nada mais é do que a extensão real desta padronização e do cruzamento entre os dois mundos.
Sexo, drogas, rivalidades políticas ou futebolísticas, não importa o tema, a internet é uma terra sem lei, ou aparenta ser assim. Um mundo paralelo onde tudo, ou quase tudo, pode ser permitido. Onde ódios, frustrações, fantasias bizarras e insanidades podem ser liberadas, onde um mundo artificial de felicidade e beleza pode ser construído, onde um “eu” falso pode substituir um “eu” verdadeiro. Onde a fantasia pode, ao menos temporariamente, substituir a realidade. Mas, cuidado. Tudo tem o seu preço. Não se pode viver imerso na fantasia sem as consequências na realidade.
Aristóteles Lima Santana, 09/09/2013.