terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A PRIVATARIA TUCANA É UMA BOMBA

“A Privataria Tucana” marca o fim de uma era

Enviado por luisnassif, ter, 20/12/2011 - 08:00

Coluna Econômica - 20/12/2011

O livro "A Privataria Tucana" marca o desfecho de uma era, ao decretar o fim político de José Serra. A falta de respostas de Serra ao livro - limitou-se a taxá-lo de "lixo" - foi a comprovação final de que não havia como responder às denúncias ali levantadas.

O livro mostra como, após as privatizaçōes, o Banco Opportunity - um dos maiores beneficiados - aportou recursos em paraísos fiscais, em empresas da filha Verônica Serra. Depois, como esse dinheiro entrou no país e serviu, entre outras coisas, para (simular) a compra da casa em que Serra vive.

Tem muito mais. Mostra a extensa rede de pessoas cercando Serra que, desde o início dos anos 90, fazia negócios entre si, utilizando o Banespa, o Banco do Brasil, circuitos de paraísos fiscais, as mesmas holdings utilizadas por outros personagens controvertidos para esquentar dinheiro

Provavelmente o livro não suscitará uma CPI, pela relevante razão de que o sistema de doleiros, paraísos fiscais, foi abundantemente utilizado por todos os partidos políticos, incluindo o PT. Aliás, uma das grandes estratégias de José Dirceu, assim que Lula é eleito, foi mapear e cooptar os personagens estrangeiros da privatização que, antes, orbitavam em torno de Serra.

Essa a razão de ter terminado em pizza a CPI do Banestado, que expunha personagens de todos os partidos.

Nesse imbróglio nacional, a posição mais sensível é a de Serra - e não propriamente para a opinião pública em geral, mas para seus próprios correligionários. Afinal, montou um esquema que em nada ficou a dever a notórios personagens da República, como Paulo Maluf. Jogou pesado para enriquecimento pessoal e da família.

Com as revelações do livro, quebra-se a grande defesa de Serra, algo que talvez a sociologia tenha estudado e que poderia ser chamada de "a blindagem dos salões". É quando personagens controvertidos se valem ou do mecenato, das artes, ou da proximidade com intelectuais para se blindarem. O caso recente mais notável foi o de Edemar Cid Ferreira e seu Banco Santos.

Serra dispunha dessa blindagem, por sua condição de economista reputado nos anos 80, de sua aproximação com o Instituto de Economia da Unicamp. Graças a isso, todos os pequenos sinais de desvio de conduta eram minimizados, tratados como futrica de adversários.

O livro provocou uma rachadura no cristal. De repente todas aquelas peças soltas da história de Serra foram sendo relidas, o quebra-cabeças remontado à luz das revelações do livro.

Os sistemas de arapongagem, que permitiram a ele derrubar a candidatura de Roseana Sarney no episódio Lunus; o chamado "jornalismo de esgoto" que o apoiou, as campanhas difamatórias pela Internet, as suspeitas de dossiê contra Paulo Renato de Souza, Aécio Neves, o discurso duplo na privatização (em particular apresentando-se como crítico, internamente operando os esquemas mais polêmicos), tudo ganhou sentido à luz da lógica desvendada pelo livro.

Fica claro, também, porque o PSDB - que ambicionava os 20 anos de poder - jogou as eleições no colo de Lula.

Todas as oportunidades de legitimação da atuação partidária foram preteridas, em benefício dos interesses pessoais da chamada ala intelectual do partido.

A perda do bonde do real

No início do real, os economistas enriqueceram com operações cambiais, em cima de uma apreciação do real que matou a grande oportunidade de criação de um mercado de consumo interno. A privatização poderia ter sido conduzida dentro de um modelo de fundos sociais, que permitiria legitimá-la e criar um mercado de capitais popular no país. Mas os interesses pessoais se interpuseram no caminho do projeto político do partido.

O cavalo encilhado

O fim da inflação permitiu o desabrochar de um mercado de consumo de massa, dez anos antes que o salário mínimo, Bolsa Família e Pronaf abrissem espaço para a nova classe média. Estariam assegurados os 20 anos de poder preconizados por Sérgio Motta, não fosse o jogo cambial, uma manobra de apreciação do real que enriqueceu os economistas mas estagnou a economia por uma década. FHC jogou fora a chance do partido e do país. Conto em detalhes essa história no livro "Os Cabeças de Planilha".

A falta de Mário Covas

Fica claro, também, a falta que Mário Covas fez ao PSDB. Com todas as críticas que possam ser feitas a ele, a Lula e a outros grandes políticos, havia neles o sentimento de povo. Na campanha de 2006, ouvi de Geraldo Alckmin a crítica - velada - à ala supostamente intelectual do PSDB. "Covas sempre me dizia para, nos finais de semana, andar pelas ruas, visitar bairros, cidades, para não perder o sentido do povo".

Os construtores e os arrivistas

Não se vá julgar impolutos Covas, Lula, Tancredo, Ulisses, o grande Montoro, Grama e outros fundadores do Brasil moderno. Dentro do modelo político brasileiro, montaram acordos nem sempre transparentes, participaram dos pactos que permitiam o financiamento partidário, familiares se aproveitaram das relações políticas para pavimentar a vida profissional. Mesmo assim, imperfeitos que eram - como políticos e seres humanos - havia neles a centelha da transformação, a vontade de deixar um legado, o apelo da redemocratização.

A ala intectual do PSDB

Esses atributos passavam ao largo das ambições da ala intelectual do partido, os economistas financistas de um lado, o grupo de Serra do outro. O individualismo exacerbado, a ambição pessoal, a falta de compromisso com o próprio partido e, menos ainda, com o país, fizeram com que não abrissem espaço para a renovação. Com exceção de Serra, FHC não legou para o partido um ministro sequer com fôlego político. Como governador, Serra não permitiu o lançamento político de um secretário sequer.

A renovação tímida

A renovação do PSDB se deu pelas mãos de Alckmin - ele próprio não revelando um secretário sequer com fôlego para sucedê-lo - e, fora de São Paulo, de Aécio Neves. Ao desvendar as manobras de Serra, o livro fecha um ciclo de ódio, personalismo, de enriquecimento de pessoas em detrimento do país e do próprio partido. No começo, será um baque para o PSDB. Passado o impacto inicial, será a libertação para o penoso reinício político.

Fonte: Blog do Nassif

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

2011 FOI BOM

2011 FOI UM ANO INTERESSANTE

Todos se lembram da famosa frase de Francis Fukuyama em 1991: “a história acabou”. Representava a euforia do império norte-americano perante a derrocada do império soviético. A história havia acabado porque não haveria mais alternativas ao capitalismo e à democracia burguesa. A tese de Fukuyama ganhou o mundo na década de 90. Foi discutida e combatida de forma apaixonada por todas as facções políticas no planeta. Convenceu inclusive setores da esquerda mundial. O debate provocado por ele aconteceu no mesmo momento em que aparece o tema da chamada “globalização”. Com o fim do império soviético as antigas províncias dele passariam finalmente a integrar a economia capitalista global. Uma vitória óbvia de um dos lados da guerra fria. Restou para vários setores da esquerda mundial a alternativa da adaptação paulatina ao novo mundo. O PT seguiu esse caminho. Aceitou a idéia de que a história havia acabado e passou a governar o país com um programa político que não era originalmente o seu.

Lembrei-me de uma frase que falei a um amigo do PT há vários anos: “a história não acabou, ela só está dando um tempo, daqui a pouco ela volta”. A tese de Fukuyama tem duas premissas falsas. A primeira é que ele reduz a história apenas ao combate entre socialismo e capitalismo. Esta contenda começou no século XIX e antes desta época já existia a história. A segunda premissa falsa era a de que o sistema soviético era uma real alternativa ao capitalismo. Várias correntes marxistas contestam isso. O sistema soviético poderia ser considerado uma das alternativas, mas não a única. Um sistema socialista com democracia e liberdade também poderia ser uma alternativa. Fukuyama trabalhou com a premissa que lhe interessava: o sistema autoritário soviético era “a” alternativa e ele perdeu. A história acabou. O departamento de Estado norte-americano, de quem Fukuyama é funcionário, adorou.

A “morte” das revoluções e do socialismo foi o grande lema derivado desta teoria. Fukuyama esqueceu-se (ou ignorou porque não lhe interessava) de que o capitalismo continuaria a ser um sistema econômico cheio de contradições. Esqueceu-se que com a globalização as crises derivadas destas contradições tenderiam a serem globais. E que as rebeliões também tenderiam a serem globais.

A crise econômica de 2008 é a grande predecessora da rebelião global de 2011. Uma crise global que gerou uma rebelião global. Um tapa na cara de quem aceitou de forma acrítica as teses de Fukuyama. Pode-se argumentar que as massas que estão indo às ruas no mundo inteiro não estão reivindicando o socialismo. Isso é verdade, por enquanto. Mas a contestação de uma alternativa social (no caso o capitalismo) precisa de uma proposta de outra alternativa social. O socialismo com democracia e liberdade é uma delas.

Mao Tse-tung disse certa vez que “uma pequena fagulha pode incendiar toda a pradaria”. O suicídio de um pobre rapaz na Tunísia foi esta fagulha que já provocou a derrubada de vários governos. Trotsky já havia dito que a “revolução é o excesso da história”. O que vemos pela TV e internet é uma história pulsante, vibrante e mais viva do que nunca. Sinto muito por quem acreditou em Fukuyama. 2011 foi um ano bom, mas para mim ele é apenas o aperitivo antes de 2012. Ao contrário daquele filme imbecil que fala do fim do mundo com base em lendas maias, o que poderemos ver talvez seja o nascimento de um mundo novo. Que venham mais rebeliões, assim teremos um feliz 2012.

Aristóteles Lima Santana, 12/12/2011.

domingo, 18 de dezembro de 2011

SOBRE O LIVRO DA DÉCADA

A PAUTA OCULTA

O livro e a imprensa, um ponto de ruptura

Por Luciano Martins Costa em 15/12/2011 na edição 672

Comentário para o programa radiofônico do OI, 15/12/2011


Esta semana marca um ponto de ruptura da imprensa brasileira tradicional, aquela chamada de circulação nacional. O fato de os principais jornais do país haverem ignorado o tópico mais divulgado na internet – o livro que denuncia atividades criminosas atribuídas a familiares e pessoas próximas do ex-governador José Serra – representa uma declaração pública de que a imprensa tradicional não considera relevante o ambiente midiático representado por blogs, sites independentes de empresas de mídia e grupos de discussões nas redes sociais.

A fidelidade canina das grandes empresas de comunicação ao político Serra é um caso a ser investigado por jornalistas e analisado por cientistas políticos. Na medida em que essa fidelidade chega ao ponto de levar as bravas redações – sempre animadas para publicizar toda espécie de malfeitoria envolvendo protagonistas do poder – a fingir que não tem qualquer relevância o fenômeno editorial intitulado A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., cria-se um precedente cujas consequências não se pode ainda avaliar.

Por iniciativa da imprensa tradicional, aprofunda-se o fosso que a separa da mídia alternativa.

Debate aberto

Não que tenha arrefecido o ímpeto dos jornais por dar repercussão a todo tipo de denúncia: estão nas primeiras páginas, nas edições de quinta-feira (15/12), o ministro Fernando Pimentel, o governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz e o publicitário Marcos Valério.

Cada um desses personagens tem uma história a explicar para a sociedade, mas a imprensa, ao proceder com tão escancarado desequilíbrio nos critérios de edição, se desqualifica como meio legítimo para mediar a questão com a sociedade.

Não se pode escapar à evidência de que a imprensa realiza um esforço corporativo para apresentar ao seu público um cardápio restrito de escândalos, quando o prato mais apetitoso vende milhares de exemplares de livros, produz um mercado paralelo de cópias piratas e manifesta o desejo do público de saber mais.

O silêncio da imprensa prejudica as chances do ex-governador José Serra de contestar as acusações apresentadas no livro contra sua filha, seu genro, o coordenador de suas campanhas eleitorais e outros personagens ligados ao seu núcleo de ação política.

Paralelamente, amplia o raio de conflitos entre as empresas de comunicação e a categoria profissional dos jornalistas, muitos dos quais são ativos participantes nos debates sobre o livro de Amaury Ribeiro Jr.

Fugindo da boa história

A origem do esquema investigado pelo autor de A Privataria Tucana se confunde com o ponto em que a imprensa tradicional perdeu o interesse pelo caso do Banestado – provavelmente a matriz de todos os crimes financeiros revelados ou semiocultos no Brasil nos últimos quinze anos. Por essa razão, aumenta a curiosidade geral em torno da recusa da imprensa em reabrir esse caso através da janela criada com o livro de Ribeiro Jr.

A partir deste ponto, torna-se legítima qualquer desconfiança sobre o real interesse da chamada grande imprensa em ver desvendadas as denúncias de corrupção que ela própria divulga. Não há mais dúvida razoável de que essas denúncias são publicadas de maneira seletiva.

O mapa aberto pelo livro de Ribeiro Jr., pelo que já se deu a conhecer, complementa reportagens já publicadas sobre crimes financeiros em geral, mas principalmente sobre aqueles que têm como vítima o patrimônio público. Em geral, as reportagens sobre aquilo que agora é chamado de malfeito esmaecem quando o caso se transforma em processo formal na Justiça.

Estranhamente, quando surge a possibilidade de oferecer ao público o acompanhamento das conclusões, a imprensa sai de campo. Observe-se, por exemplo, que o chamado caso “mensalão” está para ser prescrito e há um hiato no noticiário entre a aceitação da denúncia e a prescrição.

No caso Banestado, assim como no livro-reportagem de Amaury Ribeiro Jr., o mais importante é a revelação do esquema de lavagem de dinheiro, com o mapa dos caminhos que o dinheiro sujo realiza por paraísos fiscais e contas suspeitas. Trata-se do mesmo esquema utilizado pelos financiadores ocultos do narcotráfico, pelos corruptos e corruptores e por cidadãos acima de qualquer suspeita.

Se desse curso às pistas levantadas no livro de Ribeiro Jr., a imprensa poderia construir histórias muito interessantes – por exemplo, ao identificar consultores jurídicos especializados em lavagem de dinheiro que costumam frequentar páginas mais nobres dos jornais.

A omissão da imprensa em relação ao fenômeno editorial do ano é também a renúncia ao bom jornalismo.

Fonte: Observatório da Imprensa.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O LIVRO BOMBA CONTRA OS TUCANOS

A PRIVATARIA TUCANA

Liberdade de imprensa: para quê, para quem?

Por Ricardo Kotscho em 15/12/2011 na edição 672

Reproduzido do blog do autor, 12/12/2011

Lançado na quinta-feira (8/12), com 15 mil cópias, o livro A Privataria Tucana,do meu colega Amaury Ribeiro Jr., já é o mais vendido do país e está esgotado nas livrarias. O fenômeno editorial só não teve a oportunidade ainda de aparecer nas folhas da grande imprensa.

Como trata dos malfeitos do processo de privatização promovido pelo governo anterior, envolvendo com provas e documentos a fina flor do tucanato, até o momento em que comecei a escrever este texto, no final da tarde de segunda-feira (12), o livro foi solenemente ignorado.

O estrondoso silêncio contrasta com o barulho das denúncias contra ministros do governo atual, que repercutem imediatamente em todos os veículos, e passam semanas nas capas e manchetes.

Para quê?

Se o livro do Amaury não é bom e não prova nada, que se escreva isso com todas as letras. O que não dá é para fingir que o livro – resultado de mais de dez anos de pesquisas do repórter – não existe, é um fantasma criado pela blogosfera desvairada.

Meu amigo Nirlando Beirão, colega de trabalho no R7 e no Jornal da Record News, já comentou o assunto em seu blog e no telejornal com o Heródoto Barbeiro, na sexta-feira. Volto ao tema apenas para fazer as perguntas aí do título, que já repeti mil vezes e ninguém me responde. É para isso que defendem a liberdade de imprensa com tanto fervor e chamam de censura qualquer tentativa de se regulamentar a área de comunicação social?

Trata-se do exemplo mais descarado de manipulação da informação e do tratamento seletivo das denúncias do “jornalismo investigativo” da velha imprensa.

Para quê e para quem, afinal, serve esta liberdade de imprensa pela qual todos nós lutamos durante os tempos da ditadura, que eles apoiaram, e hoje é propriedade privada de meia dúzia de barões da mídia que decidem o que devemos ou não saber?

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[Ricardo Kotscho é jornalista]