sexta-feira, 30 de setembro de 2011

DILMA E OS MINISTROS

DILMA E OS MINISTROS

A presidente Dilma tem uma batata quente nas mãos: seu ministério. Em oito meses já caíram quatro ministros. Dos quais um, o senhor Nelson Jobim, forçou sua destituição com declarações provocadoras. Os outros três caíram por pura falta de vergonha na cara mesmo. Um deles, o senhor Pallocci, é reincidente em queda ministerial. Uma demonstração de que ainda tem gente que leva pancada e não aprende. Por trás das quedas destes ministros está a imprensa. Ela mantém o governo na mira e procura saber de tudo.

Dilma tem sido elogiada por ter demitido os ministros acusados de corrupção. Lula, no entanto, manifestou-se contra a queda de todos os ministros. A presidente não tem saída, ela não pode passar a mão na cabeça de qualquer aliado sujo. Enquanto Lula podia elogiar irresponsavelmente Delúbio Soares em público e não perder popularidade, a Dilma não pode fazê-lo. E mesmo quando o faz demite o sujeito. Lula tem carisma com o povo, Dilma não tem. A popularidade dela é derivada do fato de seu governo ser a continuação do dele. Se Dilma mantiver um ministro exposto à mídia como corrupto sua popularidade cairá com facilidade. Diante de uma numerosa porção do eleitorado que cobra ética e moralidade no uso dos recursos públicos e com uma imprensa vigilante e investigativa, Dilma não tem alternativa senão cortar o mal pela raiz.

Se do ponto de vista ético ela age de forma correta isso poderá lhe trazer problemas políticos futuros. O ministério montado por Lula (não foi por ela, claro) foi feito para diminuir os problemas dela no Congresso. Cada ministro representa um partido ou facção importante presente no Senado e na Câmara Federal. A base aliada é grande por causa disso (o número de ministérios também é grande pelo mesmo motivo). A queda de qualquer ministro pode significar perda de aliados no Congresso e, se a perda for grande, dificuldades para aprovar projetos do Governo no Legislativo. Dilma não pode vacilar com ministros expostos como corruptos na mídia, mas tem que negociar com partidos e facções a substituição deles. Nessa conta difícil ela já perdeu o apoio do PR (Partido Republicano, 7 senadores e 48 deputados federais).

Em Paulo Afonso a situação do ministério de Dilma chama atenção por causa da presença de Mário Negromonte nele. Mário é o ministro das Cidades e, junto com seu colega dos Transportes, é a “bola da vez” para cair. A revista Isto É veio com uma denúncia grave: Mário teria sido beneficiado em sua campanha para deputado com recursos desviados do ministério em que agora ocupa a chefia. A revista Veja veio com a denúncia de que Mário estaria pagando mensalão de 30 mil reais para garantir o apoio dos deputados do PP. A reportagem expôs um racha interno no partido dele. Já a revista Época colocou Nova Glória no cenário nacional, mas denunciando que a cidade, governada pela esposa do ministro das Cidades, teria sido privilegiada com recursos do ministério. Há um cerco sobre ele por parte da mídia.

Mário deu uma entrevista ao jornal O Globo no dia 23 de Agosto. Os termos que usou demonstram agressividade exagerada (“... irmão mata irmão e morre todo mundo”; “isso vai virar sangue”), ameaça a alguns de seus colegas (“imagine se começar a vazar o currículo de alguns deputados”) e medo da desmoralização pública (“não quero sair do governo com mancha”). Os melhores momentos foram aqueles em que ele afirma que continuará apoiando Dilma mesmo que venha a perder o ministério. Ainda assim a repercussão da entrevista foi ruim. No Planalto principalmente. Em nota pública ele desculpou-se por suas palavras dizendo que “posso tropeçar nas palavras, mas nunca na moral e na ética”. Sem apoio da bancada do PP ele não tem como permanecer no ministério, ou reverte isso ou vai sair. E se houver alguma prova de envolvimento com corrupção ai a coisa fica pior. No momento em que esse texto está sendo escrito (início de setembro) não podemos ter a certeza de que Mário deixará o ministério, mas se isso acontecer seus adversários em Paulo Afonso abrirão garrafas de champanhe para comemorar.

Aristóteles Lima Santana, 07/09/2011.

sábado, 24 de setembro de 2011

RUY CASTRO COMENTA SOBRE LIVRO ELETRÔNICO

LIVRO ELETRÔNICO

Fiasco

Por Ruy Castro em 19/09/2011 na edição 660

Reproduzido da Folha de S.Paulo, 16/9/2011

Nove entre dez mesas de debates na recente Bienal do Livro discutiram, em certo momento, a questão: o e-book – ou o livro digital, ou “as novas mídias” – vai acabar com o livro impresso? Nem a velha pergunta “Quem somos, de onde viemos, para onde vamos?”, nem a formulação de Freud “Afinal, o que querem as mulheres?”, nem o terceiro segredo de Fátima interessou tanto nos últimos cem anos. Parece que não chegaremos a 2012 se alguém não der uma resposta a isto.

Dito assim, tem-se a impressão de que as massas estão se organizando em batalhões e comprando mais e-books do que a indústria editorial está sendo capaz de produzir. Que, nos aviões, ônibus, metrôs, praias e cabeceiras não se veem mais livros de papel na mão das pessoas, só tablets. E que os e-books estão disparando nas listas de livros mais vendidos.

Livreiros falam em fiasco

Na verdade, não é assim – não, no Brasil. As maiores editoras brasileiras, levadas pelo que parecia ser uma tendência incontornável, fizeram enormes investimentos e, de um ano para cá, “disponibilizaram” centenas de títulos nesse formato. E como vão de vendas? Uma super-editora já vendeu 70 exemplares dessas centenas. Não 70 exemplares de cada título, mas 70 no total. E há outras no mesmo caso. Donde, inúmeros títulos estão há meses à míngua de um único leitor. Todo mundo fala e quer saber, mas ninguém compra.

Mas, nos EUA, todo mundo está aderindo ao e-book, dirá você. Sim, é o que afirma a Amazon, pai e mãe do brinquedo e principal interessada em que o mundo arrase em e-books. Só faltou combinar com o resto do planeta. Os números que a Amazon apregoa não batem com os dos livreiros brasileiros, que se sentem mais próximos dos números de venda de e-books na Europa – que também falam de um fiasco.

O e-book é um sucesso. Só não tem leitores, nem compradores.

***

[Ruy Castro é jornalista e escritor]

FONTE: Observatório da imprensa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

LÍNGUAS EM EXTINÇÃO

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Terça, 20 de setembro de 2011, 08h09 http://img.terra.com.br/i/relogio_noticias.gifAtualizada às 08h29

Mais de 2 mil línguas correm perigo de extinção

Unesco/Reprodução

Mapa indica as línguas ameaçadas de extinção

Amália Safatle
De São Paulo

A História é contada pelos vencedores - e em sua língua.

A subjugação de forças econômicas, militares, religiosas, culturais e educacionais, além da rápida urbanização, são apontadas como importantes causas da ameça em massa à diversidade de línguas no mundo, segundo mais recente relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre o assunto. De acordo com o Atlas of the World's Languages in Danger, 2.473 mil línguas faladas hoje estão em risco de extinção.

Por que isso importa? Para começar a conversa, porque a língua é o meio através do qual interagimos com o ambiente ao nosso redor. E o concebemos e entendemos. Além disso, cada língua reflete uma visão única de mundo, seu próprio conjunto de valores, filosofia e aspectos culturais - seu universo particular. A cada língua extinta, toda a humanidade perde rico e diverso conhecimento histórico, espiritual e ecológico, inclusive acarretando perdas de biodiversidade.

Entre os dez países que apresentam maior número de línguas em perigo estão Índia (198); Estados Unidos (191); Brasil (190); Indonésia (146); China (144); México (143); Rússia (131); Austrália (108); Papua Nova Guiné (98) e Canadá (88).

Os dados do relatório - que reuniu contribuição de mais de 30 linguistas no mundo, coordenados pelo australiano Christopher Moseley -, foram apresentados no início deste mês de setembro no congresso "Vozes e imagens de línguas em perigo", realizado pela Pontifícia Universidade Católica de Quito, no Equador.

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), o único brasileiro a participar do Congresso foi o historiador José Ribamar Bessa, autor do livro Rio Babel - A história das línguas no Amazonas, cuja segunda edição acaba de ser lançada pela editora UERJ.

Ao ISA, ele afirmou que sua preocupação básica é com o duplo esquecimento em relação às linguas: "As línguas maternas morrem pelo menos duas vezes: quando as esquecemos e quando nos esquecemos que foram esquecidas. O mais dramático é quando isso se torna natural".

Bessa avaliou ainda que a escola e os meios de comunicação são totalmente omissos em relação ao tema e que os brasileiros podem passar anos na escola - do ensino fundamental à universidade - sem nunca ouvir qualquer menção à história das línguas. Ou seja, não apenas não são faladas como sequer se sabe que fazem parte da História. Aí estão incluídas línguas indígenas e línguas de origem africana que -pasme - durante muito tempo foram discriminadas e proibidas pelo Estado por meio de políticas públicas.

Especificamente no Brasil, o desparecimento das 190 línguas está assim classificado:

12 extintas;
97 vulneráveis (muitas crianças falam a língua, mas apenas em certos ambientes, por exemplo, em casa);
17 em perigo definitivo (as crianças não aprendem mais a língua materna em casa);
19 em perigo severo (a língua é falada pelos avós e gerações mais velhas; os pais podem entendê-la, mas não falam entre si e nem com as crianças);
45 em situação crítica de perigo (os falantes são jovens, falam parcialmente a língua e não com frequência).

Além da versão digital, a novidade da terceira edição do Atlas é um mapa interativo www.unesco.org/culture/languages-atlas. Disponível apenas em inglês, francês e espanhol.

Fonte: Portal Terra.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

PAULO MOREIRA LEITE COMENTA TEXTO SOBRE O 11 DE SETEMBRO

Dez anos de derrotas americanas

05:14,

Paulo Moreira Leite

Estados Unidos, Geral, Política, economia Tags: 11 de setembro

Parece incrível mas é verdade. Acabo de ler uma análise nova sobre os dez anos passados após o atentado de 11 de setembro.

Essa raridade encontra-se numa longa nota de Michael Vlahos, especialista em assuntos militares, publicada pelo site huffingtonpost. Sua tese pode ser resumida assim: foram dez anos de implacáveis derrotas americanas. Vlahos não diz isso desta maneira, mas é este seu raciocínio. Pela leitura de seu texto, o pós-11 de setembro marca um período em que os EUA foram vencidos nos conflitos militares, na economia, na política.

Num texto que se inicia em tom de advertencia, 72 horas antes da realização de eventos obrigatórios no mundo inteiro sobre a tragédia, Michael Vlahos afirma: “esta é uma ocasião solene e comemorativa. Talvez seja nosso único real momento para uma reflexão construtiva.”

Vlahos prossegue, um pouco depois: “Não vamos aprender nada após dez anos de tragédia, desperdicio e ruína a menos que encaremos” o que aconteceu.

A questão, explica, reside em saber se os EUA ganharam ou perderam a guerra iniciada após os ataques. Neste ponto, ele vai direto ao ponto: os Estados Unidos foram derrotados no plano subjetivo — sentem-se derrotados — e também no plano objetivo, porque foram efetivamente derrotados. Os fatos:
1) Nenhuma das metas definidas no momento da escalada militar, como criar um ambiente de segurança e estabilidade no Oriente Médio, foi atingida.

2) Nenhum dos eventos apontados como positivos pelo governo americano, como a morte de Saddham Hussein, a execução de Osama Bin Laden, tiveram a revelancia de modificar os rumos dos acontecimentos.

3) As tropas americanas são mais vulneráveis e menos respeitadas, hoje, do que há dez anos.

4) Ainda que os EUA permaneçam e possam permanecer por muitos anos como a principal referencia economica e política do planeta, o país se sente em posição de declínio e se encontra em posição de declínio, e é impossível deixar de associar essa situação a mobilização pela guerra, que consumiu 4 trilhões de dólares. A China consolidou-se sua potencia economica global neste perído de guerra.
5) Como é tipico numa situação de derrota em toda linha, a população encontra-se mais dividida do que nunca. Sua vida política tornou-se paralisante e desfuncional.
6) A crise economica lembra os piores momentos da depressão dos anos 30. Detalhe: não se vê uma perspectiva política para tirar o país da crise, ao contrrário do que ocorria nos piores momento da depressão de 30.

Uma leitura da íntegra do texto revela uma argumentação original e corajosa. Você não precisa concordar com tudo — ou com nada do que ele escreveu — mas terminará a leitura (o original é em inglês) com um bom material para conversa e reflexão.
(Pegue o link: http://www.huffingtonpost.com/michael-vlahos/post_2358_b_952745.html)