terça-feira, 18 de novembro de 2014

SOBRE AS ELEIÇÕES 2014

ELEIÇÕES 2014
Como será conhecido no futuro o resultado das eleições de 2014? A “eleição do ódio” é um forte título, mas a “mais disputada” pode ser um que muitos prefiram. Ambas as alternativas contemplam a perspectiva de observação de muitas pessoas. Não sei como será daqui em diante, mas já aconteceram duas passeatas pós-eleitorais. Algo nunca acontecido antes. A direita saiu em São Paulo pedindo golpe militar ou impeachment sobre Dilma e, alguns dias depois, uma parcela da esquerda deu uma resposta com outra passeata com slogans socialistas. Nas redes sociais os debates (e combates) sobre as eleições continuam e, da direita à esquerda, destila-se um ideologismo barato sem muita consistência, mas propagador de uma boa dose de confusões.
Por falar em redes sociais, podemos concluir que o resultado apertado favorável a Dilma só foi conseguido graças a elas. Milhões de eleitores viraram militantes on-line. Claro que isso aconteceu com todas as forças políticas envolvidas na disputa, mas os que apoiavam o PT esforçaram-se mais. Sem ter espaço na grande mídia, usaram a pequena mídia com muito mais intensidade. O apoio de uma direita ressentida, agressiva, racista e golpista dado abertamente nas redes sociais ao candidato do PSDB assustou cidadãos e militantes no Brasil inteiro. O próprio Aécio Neves em entrevista recente (pós-eleitoral) declarou: “não ser de direita”, tentando desvencilhar-se de Bolsonaro e seus seguidores fanáticos.
Sobre Aécio Neves pode-se afirmar que ele é um dos grandes vencedores do pleito, mesmo com sua dupla derrota em Minas Gerais. Excetuando-se FHC, ele foi o candidato do PSDB que foi mais longe em uma disputa com o PT pela presidência. E olha que sua candidatura tinha tudo para naufragar. O escândalo que envolveu seu amigo, o senador Perrela, com um helicóptero cheio de cocaína, seria suficiente para abalar suas pretensões. Ele ainda teve de enfrentar a possibilidade de não ir para o segundo turno com o fenômeno Marina, surgido logo após a morte de Eduardo Campos.
No Congresso o resultado foi paradoxal. Em termos numéricos o governo tem maioria: 304 dos 513 deputados federais eleitos são da base aliada e 53 dos 81 senadores também. Mas em termos programáticos o Congresso piorou. Aumentaram as bancadas conservadoras (ruralistas, evangélicos, bancada "da bala”, etc), ou seja, grupos avessos aos movimentos sociais e a todas as bandeiras progressistas. Tais grupos possuem aversão ao PT e foram seus seguidores que organizaram a marcha pedindo um novo golpe militar. É bom não esquecer que por “base aliada” entenda-se uma miríade de grupos que incluem conservadores e oportunistas de plantão, que só estão lá porque possuem cargos e influência no governo. O relacionamento com o Congresso talvez seja tumultuado, mesmo o governo tendo maioria. Mas o governo tem fôlego, é bom lembrar que uma parcela da oposição também pode ser comprada com cargos...
Não é difícil explicar o porquê desta eleição ter sido tão acirrada. Um clima de “mudancismo” provocado pelas rebeliões do ano passado aliado ao denuncismo midiático espetacularizado; um desgaste natural de um partido que acumula doze anos no poder e um novo conceito de militância nas redes sociais (por parte da oposição também) foram suficientes para ameaçar o PT. Todo esse acirramento levou a que muitos refletissem sobre um Brasil que teria saído dividido após as eleições. Mas o Brasil sempre foi dividido. Essa divisão desperta e mostra-se em alguns momentos históricos, mas ela é permanente. E não poderia ser diferente em um país cheio de contradições e com uma concentração alta de renda e poder.
Aristóteles Lima Santana, 17/11/2014.


Um comentário:

waldilinux disse...

Muito lúcida, a análise. Capta o essencial do que tem ocorrido do começo do segundo turno para cá e os problemas que deverão surgir, sobretudo com a tendência de conservadorismo que pode assolar o Congresso.