domingo, 12 de junho de 2011

SOBRE FHC, PSD E POVÃO

SOBRE FHC, PSD E POVÃO

Há mais ou menos um mês e meio a imprensa discutiu a situação da oposição a Dilma, mais especificamente a oposição de direita formada pelo PSDB e DEM. Gilberto Kassab saiu do DEM e criou o PSD. Aderiram à nova sigla descontentes do DEM e PSDB de São Paulo e aguardam-se novas adesões em todo o país. Qual a linha programática do PSD? Kassab explicou: “não será nem de direita, nem de esquerda e nem de centro”. Você entendeu? Não? Ótimo, a intenção dele era confundir mesmo. Ou explicar aquilo que todo mundo já sabe: os partidos servem para disputar cargos públicos e eleições, idéias são descartáveis. A depender das circunstâncias qualquer uma serve. Em São Paulo o PSD pode apoiar Serra e na Bahia o governador Wagner. O novo partido está sendo apresentado ora como uma manobra de Serra contra Alckimim ora como um racha na direita tradicional cansada de fazer oposição ao lulismo depois da terceira derrota. Como se sabe direitistas neoliberais atacam o Estado e defendem as privatizações, mas adoram um carguinho público. E os cargos federais (e vários estaduais e municipais) estão com o PT e seu bloco de aliados. Então que seja bem vindo o PSD ao admirável mundo novo da disputa por ossos, quer dizer, por cargos.

Outro que chamou a atenção da mídia foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao apresentar um texto com diretrizes estratégicas orientando o PSDB para fazer oposição a Dilma. FHC diz que o seu partido deve “esquecer o povão” e se concentrar na classe média tradicional e na emergente classe C. O que ele chama de “povão” é aquela parcela grande de excluídos pobres que recebem assistência do governo. Para FHC não adianta a direita pedir votos a eles, foram “comprados” por Lula com o “bolsa-família” e outros projetos. Restam os emergentes da classe C e a classe média. O texto causou reações negativas até entre dirigentes do PSDB e DEM. A expressão “esquecer o povão” foi mal recebida por revelar desprezo e preconceito para com os humildes. Era possível esperar algo diferente vindo de FHC?

Apesar de tudo há um pequeno mérito no texto de Cardoso. É um texto que propõe discutir algo esquecido na política brasileira que é a estratégia para atuação política. Como se sabe hoje duas frases resumem a política no Brasil: A) “falarei mal de você até o dia em que você me ofereça um cargo, aí então mudarei de opinião” e B) “falarei bem de você até o dia em que você me demita do cargo, aí então mudarei de opinião”. Estratégia? Quem se importa? Claro que FHC fez a sua intervenção teórica de forma desastrosa, como já é seu costume. Nunca é bom esquecer que ele é o mesmo que, ainda presidente da república, chamou os aposentados brasileiros de “vagabundos”. Ele é reincidente em seu elitismo e dificilmente mudará seu estilo. Mas será que ele está certo? Se PSDB e DEM investirem nestas classes ganharão as próximas eleições? Para isso a classe média terá que esquecer o desemprego galopante e as privatizações dos oito anos do PSDB na presidência e a emergente classe C terá que esquecer que ela não era emergente nos dois mandatos de FHC. Não é segredo que Lula tem ganhado eleições menos por seus supostos méritos e muito mais pelo excesso de deméritos do seu antecessor. Como deméritos não faltam em FHC, e mídia para divulgá-los também não, é provável que Lula ganhe outras.

Aristóteles Lima Santana, 09/05/2011