domingo, 19 de outubro de 2008

ELEIÇÕES 2008 EM PAULO AFONSO

Domingo, 19 de Outubro de 2008
ELEIÇÕES 2008 EM PAULO AFONSO
A campanha de 2008 em Paulo Afonso começou com uma história de ficção: a candidatura de Paulo Rangel (deputado estadual, PT) para prefeito da cidade. Uma candidatura que só existiu na cabeça dele e de alguns poucos seguidores e que, por meio de artifícios golpistas, redundou na candidatura de Maninho. Os petistas, em sua grande maioria, queriam voltar às graças do prefeito Raimundo Caires (PSB). O rompimento com o prefeito, por insistência de Rangel, revelou-se um equívoco para estes petistas, haja vista a estreita aliança do governador com Caires. Um encontro municipal do PT indicou o então presidente do partido para vice de Caires, mas o diretório, influenciado por Rangel, anulou tal decisão e lançou candidatura própria. A partir daí o PT se dividiu na cidade.
Duas outras candidaturas nanicas aparecem com Nicolsinho (PSDC), que ninguém sabe porquê lançou-se candidato, e Val (PP) que representou o grupo de Mário Negromonte (deputado federal, PP). O grupo de Mário foi um dos artífices da campanha vitoriosa de Caires em 2004 e depois, como era de se esperar, causador de uma série de crises político-administrativas da sua gestão (sou particularmente desconfiado de alianças eleitorais amplas demais desde o governo Waldir Pires nos anos 80. Você ganha a eleição com mais facilidade mas depois é o caos).
A campanha de 2008 também ressucitou um morto (politicamente falando): o tal do Anilton Bastos (PFL/DEM). Este sem ter nenhuma história como político foi eleito prefeito em 1992 apoiado pelo seu tio, o sr. Luis Barbosa de Deus (deputado estadual, DEM), este sim o verdadeiro líder das forças conservadoras e de direita na cidade. Após o fim de sua gestão em 1996 o sr. Anilton recebe ordens de seu tio para não sair mais candidato e fica no limbo durante doze anos (estranhamente este fato não foi usado por Caires em sua campanha). Luis de Deus indica seu irmão Paulo para ser o candidato em 1996 e ano 2000, em duas campanhas vitoriosas garantidoras de sua hegemonia política na cidade. Em 2004 o PFL lança mais dois parentes de Luis de Deus na chapa majoritária para a prefeitura, um deles com péssima fama moral. O erro estratégico, aliado ao desgaste natural de dezesseis anos no poder, contribui para a vitória de Caires. Agora Anilton é ressucitado e ao lado dele um empresário respeitado na sociedade paulafonsina como vice. Luis de Deus aprendeu a lição. Quem não aprendeu foi o grupo de Caires.
O ressucitar de Anilton já era previsível. Em sua gestão (1993-1996) foi um gastador convicto. Os asseclas de Luis de Deus o adoravam pois tudo o que pediam recebiam. Foram eles (e não Luis) que espalharam a lenda de Anilton como prefeito excelente. Preocupado com a gastança do seu sobrinho, Luis de Deus escolhe o seu irmão como candidato em 1996. Este com fama de controlador de gastos. Anilton vai para o limbo e seu nome sempre usado nas discussões políticas como virtual candidato do PFL. Tornou-se um ás na manga de Luis de Deus e um fantasma para os grupos que lhe fazem oposição. Após a derrota em 2004 era previsível que o DEM usasse sua carta mais forte.
Raimundo Caires conseguiu um grande feito em 2004: quebrar a hegemonia do grupo de Luis de Deus na prefeitura. Circunstâncias específicas contribuíram para isso e elas não se repetiriam em 2008. Muitos pensavam (começando pelos dirigentes do comitê de campanha do PSB) que a vitória dele era inevitável e alguns fatores contribuíam para isso. Caires tinha a máquina da prefeitura nas mãos e o apoio declarado dos governos estadual e federal, ou seja, fatores que antes favoreciam Luis de Deus agora estavam ao lado dele. Mas as crises administrativas do governo Caires pesaram muito. O PT, pressionado por Paulo Rangel, rompe com ele, sendo seguido pelo grupo de Mário Negromonte. Este último conta com o vice-prefeito do seu lado e tenta por algumas vezes a cassação de Caires. Tudo isso por causa das disputas internas por cargos públicos. Em Paulo Afonso a disputa por tais cargos chegou a acabar com um casamento (sério, sem exagero). As crises do governo Caires vão até o terceiro ano do seu mandato. Nos dois primeiros anos conflitos com os servidores públicos, depois ele estabiliza a situação. O governo do PSB só melhora um pouco com a ascenção do governador Wagner (PT) e o apoio de Lídice da Mata (deputada, PSB). Caires traz para Paulo Afonso o restaurante popular e ambulâncias especiais. Seus investimentos em saúde pública melhoram sua aprovação pelos eleitores. Com o apoio de Lula, Wagner e Lídice, Caires chega às eleições, depois de três anos tumultuosos, com relativo apoio popular e sua campanha teve uma grande adesão de uma parcela do povo. Mas a grande instabilidade de seu governo contrastou com a relativa estabilidade dos dezesseis anos de domínio do PFL.
Além disso dois fatores fundamentais explicam a popularidade de Caires neste ano eleitoral: a) o fato de Caires ser o candidato de Lula, que sempre teve votações expressivas em Paulo Afonso; b) a aversão que uma grande parcela da população da cidade tem para com Luis de Deus e seu grupo. Claro que o líder do DEM tem um grande apoio popular, se não fosse assim não teria vencido as várias eleições que ganhou, mas também é certo que uma grande parcela da população reprova sua tutela na política municipal. É claro que o apoio de Wagner também foi fundamental, ele, o governador, veio pessoalmente humilhar publicamente Paulo Rangel e seu candidato "laranja" na principal praça da cidade e declarar apoio a Caires. Mas Wagner é um nome umbilicalmente ligado à Lula e o fracasso da campanha de Caires deve se tornar um ítem importante para se avaliar se a popularidade do governador anda tão alta na cidade.
No final o PT colheu o que plantou: seu candidato teve uma votação ridícula e seus vereadores também. Nenhum foi eleito. Os que foram candidatos na eleição anterior baixaram sua votação, incluindo, e principalmente, o agora ex-vereador Dorival. Aliás a tentativa desesperada deste em tentar ser o vice de Caires, com apoio de Paulo Rangel (?), talvez seja o indício do pressentimento de sua trágica votação. Em Paulo Afonso um grupo do PT apresenta-se como defensor das tradições de luta do partido, são militantes da DS (democracia socialista). Seu candidato a vereador foi impugnado pelo próprio PT. Em Nova Glória, cidade vizinha, o PT foi, literalmente, comprado por Mário Negromonte. Uma situação tão vergonhosa que um militante histórico de lá recusou-se a sair candidato. O cerco está se fechando sobre esses militantes que ainda têm a perspectiva de uma luta socialista coerente, aos poucos a decadência ideológica e a regressão programática do PT impedirão qualquer pretensão política para estes setores.
Anilton teve mais de 50% dos votos, mais de três mil de diferença sobre Caires. Este teve mais de vinte e três mil votos e, mesmo tendo perdido, ainda é uma liderança forte e possivelmente um nome para 2012. Em Paulo Afonso cerca de 14.000 eleitores abstiveram-se, em sua grande maioria são trabalhadores e estudantes que moram fora. Essa abstenção talvez explique a derrota de Caires, mas é uma suposição. Nos últimos dias surgiram acusações e ameaças de investigação sobre compra de votos feitas pelo DEM. Tudo muito nebuloso. Anilton será candidato à reeleição em 2012? Talvez sim e talvez não, pode ser que seu titio o mande ir para o limbo novamente e chame outro parente.
Sinto-me no dever de informar que meu voto este ano foi em BRANCO. Meu partido (PSOL) não está organizado na cidade e nenhum candidato a prefeito ou vereador conquistou meu voto. Caires foi o candidato de Wagner, motivo suficiente para que eu não votasse nele (sou professor do Estado e tenho vergonha na cara), e é impossível para mim votar no DEM. Os outros três candidatos eram três farsas. Em 2012 talvez eu vote em alguém.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

SOBRE A PIRATARIA

SOBRE A PIRATARIA
O fenômeno da pirataria de produtos culturais tomou proporções gigantescas nos últimos tempos. Cd's e dvd's originais, principalmente nos países mais pobres, têm dificuldade de sair das prateleiras assustando as indústrias responsáveis por esses produtos. Nas ruas ninguém pergunta mais se você já comprou o novo cd de fulano mas se você já o "baixou". Até as locadoras de dvd estão sendo vencidas pela pirataria, os lançamentos em cinema são mais facilmente (e com preços mais baixos que a locação) encontrados nos camelôs ambulantes. O fenômeno é universal e a internet foi propulsora dele. A gritaria da indústria contra tal fenômeno aumenta progressivamente, o Estado destrói cd's e dvd's piratas em demonstrações pela TV, mas ao invés de diminuir o fenômeno aumenta e já podemos afirmar que é incontrolável. O que está em jogo é a propriedade intelectual sobre os produtos culturais (música, filme, etc.), quem tem acesso através da pirataria a tais produtos viola o direito de propriedade sobre eles. Os autores (e a indústria) são lesados. O Estado também, pois recebe menos impostos.
Uma velha tese do marxismo explica o fenômeno da pirataria e o conflito derivado dela. O velho Karl Marx já nos dizia que "o desenvolvimento das forças produtivas entra em choque com as relações sociais de produção", ou seja o desenvolvimento tecnológico chega em um determinado momento que começa a entrar em choque com as regras e as formas de organização da economia, incluindo aí as leis que regulamentam sobre o direito de propriedade. O fenômeno da pirataria é isso: a tecnologia criou os programas e as mídias (softwares e hardwares) que permitem a cópia de produtos culturais industrializados provocando a possibilidade de se burlar as leis de propriedade destes produtos.
O desenvolvimento tecnológico tornou a pirataria absolutamente previsível e inevitável, as atuais tentativas feitas pela indústria e pelo Estado de controlá-la estão fadadas ao fracasso desde o início. Os preços dos produtos originais (excessivamente altos) também proporcionam uma maior procura pela pirataria, notadamente entre as classes mais baixas. E todos já sabemos que o atual modelo econômico neoliberal ao concentrar renda aumenta o número de pobres, aumentado assim o público que procura a pirataria.
Mas a discussão sobre a pirataria está no meu entender além deste debate sobre tecnologia e pobreza. Ela remete também a um debate sobre a própria qualidade dos produtos culturais. O que nos dizem os homens da indústria cultural? Que devemos comprar cd's e dvd's originais. De quem? De "Tiririca" e do grupo "Calypso". Além de outros fenômenos efêmeros da indústria da música. Por que as massas devem comprar cd's originais de músicos ou bandas cujo sucesso durará o espaço de poucos meses? Ou poucos anos? Ou poucas semanas? Lembro-me que quando o fenômeno da pirataria apareceu um dos argumentos da indústria era de que os cd's piratas tinham pouca durabilidade (parece ser verdade embora eu conheça notícias de cd's piratas gravados na década de 90 que ainda funcionam), lembro também que quando apareceram cd's piratas nos camelôs não haviam neles discos da Elis Regina, Chico Buarque ou Pink Floyd, nem sequer Beatles. Muito menos Mozart. Em sua grande maioria eram de músicos ou bandas "da moda", ou seja fenômenos musicais efêmeros. A durabilidade física de um cd pirata será de poucos meses? Ótimo, a durabilidade da música contida nele provavelmente será menor ainda. Para quê comprar um cd original de qualquer um desses grupos sertanejos? Daqui a vinte anos o cd continuará (se bem cuidado) em bom estado de uso, mas quem se lembrará de tais grupos daqui a vinte anos? E antes que alguém pense em contra-atacar tal argumento vou apenas lembrar que recentemente celebramos duzentos anos da morte de Mozart, e mesmo depois de todo esse tempo continuamos a ouví-lo. Portanto esqueçam qualquer argumento parecido com "tudo é efêmero".
Efêmero também é o seu aparelho de som. Um dos argumentos contra a pirataria é o de que o cd pirata estragaria os aparelhos de som, mas claro que isso fica por conta da hipocrisia suja da indústria, pois todo mundo já percebeu que tais aparelhos possuem vida útil limitada, eles estragam logo para que você compre outro com ou sem uso de produto pirata. Aliás, faça uma pesquisa e saia perguntando quantas pessoas tiveram seus aparelhos estragados pela pirataria, é como procurar uma agulha em um palheiro.
Para exigir que as massas sejam honestas e só comprem produtos originais a indústria também deveria ser honesta. Como sou fã do Chico Buarque faço questão de ter seus cd's originais. Comprei o cd do disco "Construção" recentemente e, surpreendentemente, nenhuma, absolutamente nenhuma música dele é audível, todas estragadas. Se eu "baixar" o disco pela internet garanto que ele virá com uma qualidade muito superior. O fabuloso disco "Closer" do Joy Division possui uma belíssima capa, branca com uma bela foto no centro. Na versão em cd original que possuo a capa é de um amarelão horrível e a foto absolutamente não visível. E para piorar falta uma música do disco no cd. Recentemente o músico Lobão contestou as gravadoras por elas não numerarem os discos lançados no mercado. Os músicos ficam sem saber quantos cd's realmente venderam e a possibilidade de serem lesados pela indústria é muito grande. Exigir honestidade dos outros é bom desde que se faça a sua parte. Não é o caso da indústria da música.
O que pode ser argumentado contra a pirataria é sobre algo que a indústria do entretenimento nunca o fará. Pirataria não é apreciação de uma obra de arte, é consumismo do que é efêmero. A explosão da pirataria acontece não só no momento em que o desenvolvimento tecnológico torna possível quebrar as regras de propriedade intelectual, mas também em um momento de maior declínio do gosto artístico das massas. A "regressão da audição" que Theodor Adorno denunciava no início dos anos 60 chegou ao seu auge, e tende a piorar. E não só na música, vá a um camelô que vende dvd pirata e tente encontrar Felini, Bergman, Glauber Rocha ou Godard. Com certeza não os encontrará, mas se você estiver procurando o "Rambo 4" seu desejo será satisfeito. Como todos os produtos culturais procurados são efêmeros, não vale a pena para as massas ter os produtos originais. Só procura o produto original ou o bobo útil que engole o discurso da indústria de que é falta de ética comprar produto pirata ou aquele que entende música e filme como obras de arte que estão além de qualquer modismo efêmero. Nem é preciso lembrar que precisa ter muito dinheiro para comprar o produto original.
É claro que mesmo pessoas que não estão presas a modismos efêmeros também fazem uso da pirataria, por um motivo simples: a facilidade. Para quem mora em uma cidade do interior do Brasil (ou de qualquer país) é muito difícil ter acesso a produtos cuja qualidade ultrapassa o momentâneo. Pode-se argumentar que é possível comprar o produto original pela internet, mas claro se você o encontrar e tiver dinheiro suficiente. Para quê demorar vinte anos para comprar o dvd do filme "Zabriskie Point" (Antonioni, 1970) se posso "baixá-lo" agora mesmo?
Você já sabe que existe o desemprego, mas a indústria do entretenimento e a grande mídia só se lembram dele quando é para combater a pirataria, argumentando que os trabalhadores e os artistas perderão seus empregos na indústria se ela falir. Em primeiro lugar entenda que o alto nível de desemprego atual está associado tanto à estratégia neoliberal de quebrar a força dos sindicatos como também ao grande processo de robotização da produção industrial. Não existe pirataria de automóveis, por exemplo, e os trabalhadores da indústria automobilística têm sido despejados no olho da rua aos montes nos últimos anos. Você comprando ou não produtos piratas, os trabalhadores da indústria do entretenimento perderão seus empregos algum dia com a robotização. E os artistas? É da natureza de quem se considera artista fazer arte, ganhando muito ou pouco para isso. Aliá se muitos desses músicos atuais desistirem de fazer música será ótimo para elevar o nível de qualidade artística. E se você estiver em uma praça de qualquer cidade cercado de camelôs que vendem pirataria, pense no que essas pessoas estariam fazendo se não fosse essa atividade. Um camelô a mais é um traficante (ou um assaltante) a menos em sua cidade.
Comprar produto pirata financia o tráfico. Até isso já falaram. Vá até o centro de sua cidade e compre qualquer produto original em qualquer loja. Que garantias você pode ter de que o dono ou o empregado da loja não são consumidores de drogas ilícitas? Comprando produto pirata ou legal você pode, sem querer e sem saber, estar financiando o tráfico. Ao sair do banco e fazer uma compra qualquer o seu dinheiro é posto em circulação e pode, talvez, chegar nas mãos de um traficante.
Não fique com peso na consciência ao comprar produto pirata. As falácias e mentiras da indústria do entretenimento não vão conseguir frear o inevitável: a destruição desta indústria da forma como ela está organizada. A discussão (e o combate) sobre a pirataria nada mais é do que se discutir se essa indústria terá mais ou menos lucros. Em nenhum momento a indústria se propõe a discutir sobre a qualidade dos produtos culturais nem a combater e se recusar a lançar imbecilidades musicais ou visuais. E no final das contas o velho Marx estava certo, o desenvolvimento das forças produtivas entra realmente em choque com as relações sociais de produção (neste caso específico da pirataria, com suas relações jurídicas de propriedade). O surgimento e ascensão da pirataria é só mais uma prova disso.
 Aristóteles lima Santana.
Postado por alma rubra às 08:49 2 comentários
Marcadores: música dvd pirataria

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Novo começo

Este é meu novo blog. Em breve estarei escrevendo nele belas pedradas na vidraça da mediocridade, tentarei jogar fagulhas na pradaria e criar "um, dois, três, muitos vietnãs". Ambicioso? Veremos.