sábado, 29 de outubro de 2011

O AUMENTO DO NUMERO DE VEREADORES

O AUMENTO DO NÚMERO DE VEREADORES

Em vários municípios, incluindo o nosso, o número de vereadores será aumentado. Não se preocupe, a verba destinada à Câmara de vereadores não aumentará. Ela será redistribuída. O salário dos vereadores diminuirá? Inicialmente sim, mas provavelmente não por muito tempo. Embora esta matemática estranha e complicada nos interesse como cidadãos, a discussão é muito mais ampla.

Para quê aumentar o número de vereadores? Em termos práticos e constitucionais para aumentar a representação do povo na Câmara. Em uma democracia representativa o número de representantes eleitos define o grau de participação na república. Já houve quem contestasse isso. Um certo teórico disse que podia provar que nunca existiu democracia. Como? Simples, ele propôs que somássemos os votos dos que foram e dos que não foram eleitos no poder legislativo. O número de eleitores sem representação nenhuma é sempre maior que o número dos que votaram em alguém que foi eleito. Outra matemática complicada para nós cidadãos que pagamos impostos e nem sempre somos representados em uma suposta “casa do povo”.

Mas aumentar o número de vereadores aumentará a qualidade da política em nosso município? Qualquer cidadão que possua dois neurônios, com pelo menos um funcionando, sabe que não. Aumentar o número de edis é apenas aumentar o número de pessoas que terão poder para propor nomes de rua e moções de repúdio ou aplauso. Alguns podem argumentar que nos últimos meses nossa câmara tem tido seções “agitadas”. Sim, mas é tão somente por causa da aproximação do ano eleitoral.

Entre os teóricos da política sempre existiu o debate sobre esse assunto: alguns defendiam o aumento do número de legisladores para aumentar a representação do povo e outros que achavam que um número grande deles daria muita dor de cabeça ao executivo. Eu sou daqueles que acha que aumentar o número de legisladores é aumentar o número de boêmios, ou seja, o de pessoas que vão ganhar muito e trabalhar pouco. Trabalhar oito horas por mês, ganhar mais de seis mil reais mensais e ter duas férias por ano. Por estes dados você já deve imaginar o porquê do número excessivo de candidatos em nossa cidade.

O aumento do número de vereadores só seria desejável caso houvesse uma melhora na qualidade dos políticos. Como isso seria possível? Em primeiro lugar melhorando a qualidade dos eleitores. Sim, em parte o culpado é você, eleitor, que não escolhe com critérios melhores em quem vai votar. Voltando à matemática podemos afirmar que é uma relação inversamente proporcional: um número grande de espertalhões está no poder porque um número excessivo de bobos votou neles. Portanto, não seja bobo na hora de votar. Pesquise, estude, analise os candidatos e partidos. E não venda seu voto em troca de carguinho na prefeitura ou por um litro de cachaça.

A mudança virá. Nossa cidade tem direito, pela legislação em vigor, de ter até 17 vereadores. Mas os atuais representantes acham este número muito incômodo. Como a verba dada à Câmara será a mesma, em tese o salário dos edis diminuirá.Quanto maior for o número deles , menor será o salário. Por isso em Paulo Afonso discute-se o aumento para 13 ou 15. Diminuir o ganho do vereador é bom, mas nunca se esqueça que ele tem um privilégio que você não tem: o de votar o aumento do seu próprio salário. Pense nisso antes de dormir e antes de votar.

Aristóteles Lima Santana, 18/10/11

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

GILBERTO MARINGONI COMENTA A ATUAL ONDA DE REBELIÃO GLOBAL

Gilberto Maringoni: A casa está em chamas

Alternativas para a casa em chamas

Conservadores acusam indignados de não apresentarem alternativas. É irônico. Quem não tem respostas a dar acusa o outro de não saber que perguntas fazer. Manifestantes têm um ponto poderoso em comum: são contra “tudo isso aí”.

por Gilberto Maringoni, em Carta Maior

A semana que passou estabeleceu um marco nos protestos contra a crise. Manifestantes tomaram ruas e praças – em intensidades variáveis – em 951 cidades de 82 países. Os maiores atos ocorreram na Europa, em Bruxelas, Madri, Barcelona, Roma e Londres.

A acusação mais repetida contra os protestos é que seus integrantes não têm bandeiras ou demandas claras. Em parte é verdade. Mas qual o problema real?

Tais acusações partem invariavelmente de comentaristas conservadores e partidários do status quo, que naufraga a olhos vistos. Os responsáveis pela situação não têm satisfações a dar às maiorias desesperadas, a não ser exigir mais arrocho. Estamos na seguinte situação: aqueles que não conseguem apresentar respostas acusam os oponentes de não saberem quais as perguntas a serem feitas.

Vinte anos depois da proclamação do fim da História e do advento de uma intensa campanha contra tudo o que tivesse ligação com mudança e transformação social, a Europa chega ao precipício.

O problema não é exatamente falta de rumos, é que os setores que se manifestam apresentam características novas.

Setores organizados

Em um século e meio de história, a esquerda, munida de teoria e vontade, aprendeu a atuar com setores organizados da sociedade. A construção de partidos, sindicatos, frentes, ligas, associações e outros organismos disciplinaram a luta de classes.

Os embates deixaram de ser espontâneos e passaram a contar com formulações, com tática e estratégia, que otimizaram forças e agregaram ciência à mobilização social. Construíram-se teorias, que deram previsibilidade a enfrentamentos. Diante da estruturação dos setores dominantes – que contavam com Estado, capital e violência organizada – se contrapunha a disciplina de partidos e entidades de massa. Mesmo situações de derrota passaram a ter sua pedagogia positiva, com lições a potencializar novos enfrentamentos.

Apesar dos mecanicismos que muitas vezes advinham de tais concepções, a esquerda aprendeu a fazer política com projeto tático e estratégico e movimentos planejados.

Mesmo as mobilizações de 1968 – que evidenciaram a existência de bandeiras transversais e matizadas na luta de classes, como direitos das mulheres, dos negros, das minorias sexuais etc. – tinham como caminho de acumulação de forças a organização social e a formação de blocos e alianças.

União do não pertencimento

As mobilizações de 2011 estão em curso. Mas apresentam algumas novidades.

Ela não está apenas no alcance potencialmente global das rebeliões – mas especialmente por arregimentar setores não organizados previamente. É uma espécie da união do não pertencimento, uma coletividade fragmentada. O movimento Ocupar Wall Street, os protestos dos Indignados e todas as marchas que se agregam sob a bandeira de “Somos 99%” não foram arregimentados por partidos, sindicatos, ONGs, associações, clubes ou por qualquer entidade tradicional. Têm um caráter espontâneo e insurrecional acentuado e são convocados por redes sociais na internet e não por carros de som nas portas de fábricas. Em outros tempos formariam os chamados setores “desorganizados”. São os sem-líderes, os sem-partidos, além de sem-empregos e sem-esperanças.

A bandeira que os congrega é a negação “a tudo isso aí”. É poderosa por ser ampla, mas frágil por ser genérica. É impactante por mostrar resistência ao desastre, mas precisará dar um passo adiante para evitá-lo.

Keynesianismo liberal?

Tudo indica que estamos entrando em um período prolongado de crise. O choque de 2008 – que não provocou, de imediato, reação popular à altura e nem teoria para a superação do modelo econômico que a gerou – entra agora num segundo tempo. Esgotaram-se as receitas daquilo que se poderia denominar keynesianismo liberal. A contradição em termos se deu através das maciças injeções de dinheiro público nas grandes corporações – financeiras e industriais – para se evitar um desastre iminente.

Alguns analistas, de forma apressada, viram nesse tipo de socorro a evidência de que o neoliberalismo – com sua repulsa às intervenções do Estado na economia – falira e que em seu lugar políticas anticíclicas de corte keynesiano haviam entrado em ação.

Embora tenham adiado o desastre em várias frentes, as medidas não foram acompanhadas de uma iniciativa estrutural. Além de os lucros das grandes agências financeiras continuarem a engordar contas de acionistas e contracheques de altos executivos, nem um parafuso foi apertado em favor de um novo tipo de regulação dos mercados. Ao contrário: medidas desse tipo foram rechaçadas tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.

Velhas regras

O caso das montadoras de automóveis no Brasil representou uma pequena amostra da situação global. Apesar de receberem empréstimos a juros subsidiados de R$ 16,3 bilhões do BNDES, as empresas realizaram remessas de lucros e dividendos da ordem de R$ 12,4 bilhões às suas matrizes, entre os anos de 2008 e 2010. Os investimentos para manter a produção ficaram em apenas R$ 3,6 bilhões no mesmo período. Além de não haver nenhuma restrição a esse tipo de operação, as empresas automotivas foram premiadas com novas rodadas de isenções e favores, sem necessidade de apresentarem contrapartida na manutenção do nível de emprego e salário.

Mais dinheiro jogado em um sistema que mantém as mesmas regras, adia mas não resolve problema algum. O Estado na Europa e nos EUA garantiu interesses privados. As crises fiscais daí advindas arrombaram os cofres públicos. A conta que a Grécia é forçada a pagar – e que chega também a Espanha, Portugal e Itália, em menor grau – representa um aprofundamento do neoliberalismo e não sua superação.

A casa em chamas

Os indignados europeus sentem o drama na carne. Percebem que estão levando a pior no jogo e só têm uma alternativa: as ruas. Podem não saber o que querem, mas sabem bem o que não querem.

A situação lembra um conhecido poema de Brecht, a “Parábola de Buda sobre a casa em chamas”. Nele, Buda conta a seus discípulos uma história:

“Numa ocasião, vi uma casa pegando fogo.

As chamas saíam pelo telhado.

Quando me aproximei, vi homens em seu interior.

Avisei que o teto estava queimando,

Mas não tinham pressa.

Um deles, enquanto suas sobrancelhas começavam a arder,

Perguntou-me como estava o tempo aqui fora, se a chuva continuava,

Se a ventania parara, se havia outra casa nas redondezas e assim por diante.

Não respondi e me afastei.

Na realidade, meus amigos, aos indiferentes que não vêem motivos para mudar

Não tenho nada a dizer”.

A casa global começa a pegar fogo. Em alguns lugares as sobrancelhas de muita gente já ardem. Os comentaristas conservadores desdenham os ativistas e perguntam como vai o tempo, se chove amanhã etc. etc…

Não importa. É preciso negar tudo. É preciso sair da casa rápido.

E depois pensar nas alternativas para se apagar o incêndio e reconstruir tudo em outras bases.

FONTE: Vi o mundo, Luis Carlos Azenha.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O ENEM É REALMENTE BOM?


Enem e a ditadura dos rankings

Professora da USP critica a utilização indiscriminada de exames para avaliar a qualidade da educação

TAGS: Enem, Ranking

“Acredita-se em um poder mítico dos números e esquece-se que o ensino tem objetivos que não são passíveis de mensuração quantitativa”, afirma Cristiane Gottschalk, doutora em filosofia da educação e professora da Universidade de São Paulo. Além do alto número de rankings que procuram medir a qualidade de escolas e universidades, Gottschalk comenta a recente polêmica sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a promoção de instituições de ensino com base no resultado da prova.

Existe na sociedade uma neurose em torno de rankings universitários e escolares?

Sem dúvida. Existe uma pressão crescente da economia mundial sobre os sistemas educacionais para que sejam determinados os níveis de eficiência das escolas e universidades. Um dos resultados são esses rankings que têm ocupado as manchetes, como se fossem descrições precisas do grau de eficiência das instituições. A avaliação de um aluno da escola básica não pode se reduzir a um número aferido por provas de disciplinas específicas, como matemática e português. Do mesmo modo, a pesquisa na universidade transcende a quantidade de artigos publicados em revistas especializadas.

Há fatores que não podem ser mensurados, mas são determinantes?

Além de serem determinantes, são condições de aprendizado, como a transmissão de princípios e procedimentos que são ensinados muitas vezes de modo tácito. Técnicas de memorização, modos de comparar e organizar fenômenos, diferentes formas de raciocínio (indutivo, analógico e dedutivo)… Há uma gama ilimitada de “fatores” não passíveis de serem mensurados em curto prazo.

O Enem é mais usado para a promoção dos colégios do que para a análise do ensino no país?

Sim. Mas, além desse uso perverso do Enem, que esconde interesses privados, gostaria de ressaltar outro equívoco. O exame está fundamentado em uma teoria pedagógica específica, denominada “pedagogia das competências”. Essa concepção tem como norte o desenvolvimento já na escola de competências exigidas pelo mercado de trabalho. Mais preocupante é que o governo tem anunciado o propósito de utilizar o Enem como modelo para o currículo do ensino médio, induzindo, assim, todas as escolas públicas a adotarem uma única metodologia de ensino. A escola perde sua autonomia e os professores passam a ser meros executores de orientações pedagógicas vindas de cima.

FONTE: Revista Cult.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

LIVRO ELETRÔNICO VERSUS IMPRESSO

E-reader vs. livro impresso

Por Alejandro Francisco Rubio em 18/10/2011 na edição 664

Diante da polêmica gerada no maior mercado de livros do mundo, EUA, onde gigantescas livrarias fecharam suas portas devido à impossibilidade de concorrerem com o livro digital, surge a dúvida: quais são as vantagens e desvantagens da nova mídia?

a) Portabilidade: sem dúvida, esta vantagem é muito clara e não merece extensão de comentários;

b) Disponibilidade de informações: hoje, qualquer tablet pesando menos de 200 gramas tem capacidade de armazenar mais títulos que a maior biblioteca do mundo, contando com a indexação das informações num formato muito superior ao das bibliotecas, onde somente a bibliotecária sabia onde o livro estava e quais as obras que abordavam determinado tema;

c) Segurança do arquivo: custo menor para aquisição de pacotes de livros em oferta, porém não havendo garantia de poder reinstalá-los em caso de perda de dados; ou seja, você vai ter que pagar de novo;

d) Impacto ecológico menor: opa! Aí chegamos em um ponto muito complicado e que vamos discutir abaixo. O livro de papel é muito menos poluente e impacta menos o meio ambiente que os livros digitais. Sim! É uma verdade.

Paisagens devastadas e poluídas

O livro em si não é tão poluente, mas sim, os produtos químicos que são usados na fabricação do papel. A madeira usada para a produção de papel não tem nada a ver com florestas a serem preservadas, visto que estas são de fibras curtas e não servem para papel, que precisa de fibras longas (basicamente pinus e eucalyptus). Sabemos que estas árvores são reflorestadas, apresentando um risco mínimo para o meio ambiente e sendo possível manter com facilidade a sustentabilidade ecológica.

O tablet é uma peça maravilhosa da engenharia moderna, mas é tão poluidor quanto qualquer computador (levando em conta que já tive 14 deles na minha vida). Muitos deles, após alguns anos vão parar na vala do lixo comum, gerando acúmulo de substancias tóxicas; remessas gigantescas são exportadas para a China, onde mulheres e crianças em condições sub-humanas de trabalho fazem o garimpo dos materiais nobres para queimar o resto.

Temos também uma quantidade sem fim de elementos químicos altamente poluentes que serão despejados no meio ambiente sem o menor critério. Sem contar com a contaminação das mineradoras, que tornam paisagens totalmente devastadas e poluídas, quase sempre em países do terceiro mundo, além de oferecerem situações degradantes aos empregados.

“Mero consumismo”

Para se construir um único computador, são utilizados cerca de 1.800 quilos de materiais dos mais diversos tipos, sendo que desse total, mil e quinhentos litros são de água, duzentos e quarenta de combustíveis fósseis e vinte e dois de outros produtos químicos. Ou seja, um tablet, infinitamente menor e com recursos tecnológicos de ponta, gasta mais recursos naturais do que construir uma motocicleta!

Produtos ecologicamente corretos não são os que estamos consumindo, visto que o alto custo inviabiliza a concorrência em um mercado onde o preço é cada vez menor. Se você tivesse que decidir entre comprar um aparelho menos agressivo ao meio ambiente por 3 mil reais ou um outro com materiais inferiores, por 500 reais a menos, nem perderia tempo em pensar. Aliás, esse não é um debate que a indústria da informática coloca em pauta, tornando público somente o que é importante para eles.

Proteger as árvores é uma questão puramente sentimental, sem o menor sentido ecológico, pois elas são um recurso renovável. O que devemos proteger são as florestas e as pessoas que habitam nosso planeta. Por isso, mesmo usando meu notebook utilizo as palavras de Philip Roth de que tudo não passa de “mero consumismo”, sendo que chegou para ficar entre nós. Aliás, qual será a próxima novidade em tablets? Daqui a seis meses iremos aposentar o nosso e partir para outro com melhor imagem, menor consumo e mais recursos...

Jobs e Macunaíma

Qual é a vantagem de ter todas as informações na mão sem pesquisar, sem criar caminhos lógicos no cérebro? Sem as sinapses geradas pelo raciocínio lógico, podemos contar com a involução do ser humano; a acomodação vai nos forçar a percorrer o caminho inverso ao que percorremos na história do animal humano. O engenho pode chegar a ser deixado de lado, visto que os programas computacionais vão resolver todos nossos problemas; o conhecimento vai ser substituído pela habilidade num jogo similar ao de um vídeo game. A criação artística e sua contemplação pode se perder em um maremoto de imagens, onde tudo parece igual, mera sequência de bytes.

Podem os meios magnéticos preservar a cultura? Se levarmos em conta que os vencedores sempre destruíram a cultura da civilização vencida e que 10.000 anos de tradições e conhecimentos foram enterrados em guerras, não resta dúvida de que não vai ter byte sobre byte daqui a algumas gerações. O crescimento exponencial da quantidade de informações e a necessidade de backups ainda maiores dá a certeza de que muita coisa vai se perder e que iremos sofrer a cada dia da mesma forma que muitos sofreram com a queimada de Alexandria (biblioteca).

Nossa cultura é de primeira linha? Depende do ponto de vista. Tenha em conta que o herói hoje é Steve Jobs, um marqueteiro inigualável, previsor do futuro com qualidade. Mas não foi mais que isso. Eu acho que prefiro Macunaíma, última linha da vida, mas muito humano e nacional. Não se fazem mais heróis como antigamente.

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[Alejandro Francisco Rubio é livreiro há mais de 40 anos e tem um sebo em Curitiba]

Fonte: Observatório da Imprensa.