quarta-feira, 12 de outubro de 2011

EDITORA SUNDERMANN RELANÇA CLÁSSICO DE TROTSKY








LIVRO: REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO NA ALEMANHA, DE LEON TROTSKY

Ainda hoje há os que afirmam que Stálin foi um grande estrategista. A vitória soviética na segunda guerra mundial e seu papel fundamental na destruição da máquina de guerra nazista são os argumentos fortes de seus defensores. A própria vitória sobre Trotsky no final dos anos 20 é um de seus argumentos. É claro que seus defensores "esquecem" que para vencer seus adversários internos dentro do partido ele usou e abusou da calúnia, do assassinato e da deportação, embora alguns defendam tais atos (corajosos ou psicopatas?). É claro que vencer guerras e adversários políticos requer astúcia estratégica, subestimar Stálin não ajuda a entender bem a história tal qual se processou, ademais em política aprendemos que a moral é quase sempre muito relativa: não há notícias de que anjinhos de bondade tenham chegado ao poder. É claro que em vida Stálin foi um vitorioso, o que é discutível é a forma com que construiu sua vitória e as consequências dela tanto durante sua vida como após sua morte. Uma discussão sobre o legado de um personagem histórico como Stálin não se limita a seu período de vida (1879-1953) mas à posteridade de sua existência. E mesmo em vida algumas opções estratégicas de Stálin foram desastrosas. Para quem reverencia Stálin e subestima Trotsky o remédio mais forte é ler o livro "Revolução e contra-revolução na Alemanha", uma seleção de textos do velho Leon publicado no início dos anos 30 com artigos escritos entre 1929 e 1932.

A discussão é sobre o papel do Partido Comunista Alemão no período de ascensão do nazismo e, por extensão, da Internacional Comunista dirigida por Stálin desde o congresso de 1928 (VI congresso). A partir deste ano a Internacional Comunista dá uma virada esquerdista doentia concentrando em todos os países ataques contra a social-democracia moderada, usando termos como "social-fascismo" e "ala moderada do fascismo", obscurecendo para a militância dos partidos comunistas as diferenças entre a social-democracia e o fascismo, e, o que é pior, subestimando o último. Pois que os ataques à social-democracia indicavam uma linha de pensamento de considerá-la como mais forte e um empecilho maior à revolução. Para este esquerdismo doentio seria muito "fácil" varrer os fascistas politicamente, pois que as massas proletárias no momento certo os enxergariam como inimigos e o PC chegaria ao poder, mas a social-democracia confunde o proletariado com sua fraseologia de esquerda, sendo mais difícil vencê-la torna-se o adversário principal.

Em um momento de delírio o PC Alemão chega mesmo a desejar que os nazistas tomem o poder e, com seu governo autoritário e violento, acirrem a luta de classes ocasionando a insurreição proletária e a vitória do PCA. Trotsky com destreza e precisão destrói todas as ilusões do esquerdismo stalinista e alerta para os perigos da vitória das hordas de Hitler: a destruição do movimento operário alemão (social-democracia e comunismo), a remilitarização da Alemanha e, no futuro, a guerra da Alemanha Nazista com a União Soviética, todas as previsões mais do que confirmadas pela história. Stálin venceu a guerra? Trotsky previu a guerra. Todo o horror do nazismo e da segunda guerra mundial poderiam ter sido evitados se suas palavras tivessem sido ouvidas.

A proposta de Trotsky era clara: a frente única da social-democracia e do PCA contra o nazismo. Uma frente política e militar, pois o resultado do confronto político seria a guerra civil (como aconteceu na Espanha), mesmo que os nazistas vencessem a guerra civil a Alemanha estaria enfraquecida e seria fácil para as tropas soviéticas vencê-la.

A tragédia aconteceu, 1933 é o ano em que os nazistas chegam ao poder e Stálin assustado com tal fato ordena uma guinada na Internacional Comunista, esta passa do esquerdismo sectário para uma direitização ampla demais, fruto mais do desespero momentâneo do que de uma reflexão teórica séria. Chega a época das frentes populares. Por sua vez Trotsky joga suas forças na tentativa de criar uma nova Internacional. Nenhuma das duas alternativas freia o já inevitável: a ascensão da extrema direita e a guerra. Em uma época como a nossa, em que diversos grupos neofascistas crescem em diversos países, este livro é um guia fundamental.

Aristóteles Lima Santana, setembro de 2006.







Nenhum comentário: