A atual campanha da Igreja é resultado de um renascimento da Teologia da Libertação? Esta concepção foi hegemônica entre os membros da Igreja nos anos 70, 80 e até meados dos anos 90. Uma concepção teológica que abriu um processo de crítica e combate ao capitalismo gerando no seio da Igreja muitos lutadores pelo socialismo entre leigos e padres. Tal teologia diminuiu consideravelmente sua influência nos últimos anos graças às perseguições internas efetuadas pelo Papa João Paulo II e seu assessor pessoal (e atual Papa) Ratzinger. É claro que os seguidores da Teologia da Libertação sentem-se à vontade com a atual campanha da fraternidade, mas a asua crítica ao modo de produção capitalista é muito mais radical do que a crítica do culto ao dinheiro. Os grupos de fanáticos carismáticos que se espalham pelo Brasil poderão no máximo promover críticas emocionais ( e muitas vezes hipócritas) ao acúmulo de dinheiro e não uma reflexão mais profunda sobre o sistema capitalista como um todo, como fazem os teólogos da libertação.
Como será dirigida por grupos não ligados à Teologia da Libertação a campanha da fraternidade terá limites claros: sua crítica ao acúmulo de capital será emocional e despolitizada, sem uma reflexão profunda sobre o que gera o culto ao dinheiro, como resultado a campanha será esquecida pelos leigos após sua finalização; sem essa reflexão profunda os membros da Igreja ficarão sem conhecer o verdadeiro caráter da Teologia da Prosperidade que é a de ser um subproduto ideológico do neoliberalismo, corrente hegemônica entre os defensores do sistema capitalista mundial hoje. O neoliberalismo (que é chamado de "monetarismo" entre os seus seguidores) promove desde a década de 80 uma luta ideológica contra os valores de igualdade e solidariedade e valoriza o extremo individualismo egoista e o acúmulo de capital. Combater de forma correta o culto ao dinheiro será combater o capitalismo e o neoliberalismo. Os seguidores da Teologia da Libertação fazem assim, os carismáticos vão fazê-lo?
Uma outra questão: a crítica do culto ao dinheiro não pode deixar de compreender que ele só é cultuado porque tem uma utilidade. Acumula-se dinheiro para que se possa comprar mercadorias. Dentro do sistema capitalista a única forma de se ter acesso às mercadorias é através do dinheiro e é o consumo de tais mercadorias a fonte prática do culto monetário. Uma crítica ao consumismo desenfreado traria mais "dividendos" reflexivos (políticos, teológicos, ecológicos, etc.) do que a crítica do culto ao dinheiro. A Teologia da Prosperidade não passa de um materialismo burguês do pior calibre: pedir a Jesus dinheiro para comprar mais produtos e ser mais feliz. A crítica ao consumismo é uma pancada mais forte em seus pressupostos.
Apesar de seus limites esta campanha da fraternidade abre boas perspectivas para criarmos um processo de reflexão e crítica ao sistema capitalista. Inclusive para provocar nos cristãos católicos uma reflexão sobre o porquê do Papa Ratzinger apoiar ostensivamente as forças do capitalismo mundial, promotoras do culto ao dinheiro, e combater as forças socialistas, inclusive dentro da Igreja, promotoras da crítica radical ao capitalismo e ao dinheiro. A campanha pode, inclusive, ajudar a Teologia da Libertação a sair do limbo a que foi submetida por Ratzinger. Nem é preciso lembrar que é tarefa fundamental para quem sonha e luta por uma nova sociedade socialista e solidária combater a Teologia da Prosperidade, um misto de fanatismo imbecil e podridão ideológica burguesa.
Aristóteles Lima Santana, 23/03/2010.
5 comentários:
Parabéns Aristóteles...
Ainda bem que sou Ateu , graças a Deus kkkkk
Boa visão e alerta no assunto, aristóteles.O problema e o grande corpo que faz parte da campanha que apenas estão indo por embalo no intuito de críticar outras correntes ideológicas usando apenas a emoção religiosa, ao invez, de se integrarem no assunto como um todo.
precisamos da atitude de cada indivíduo consciênte para podermos desmascarar a falsa moral que está camuflada nos meandros de nossa sociedade...... parabéns pelo ensaio....
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