terça-feira, 22 de julho de 2014

TRANSPARÊNCIA TOTAL

TRANSPARÊNCIA TOTAL
Em maio deste ano um cidadão espanhol venceu um processo na Corte Europeia de Justiça. A sentença deu a ele o direito de desaparecer do Google. Sim, tudo e todos estão nele. Seu nome, endereço, CPF, preferências pessoais, seu estilo de se vestir, etc. Aquilo que não estiver nas buscas do Google, poderá ser encontrado no Facebook, no Twitter ou no finado Orkut. Abra seu e-mail e veja que tem empresas mandando notícias sobre lançamentos de seus produtos, mas você não se lembra de ter mandado seus dados para elas e nem solicitado receber as novidades. Como elas souberam o seu e-mail?
Existe um tráfico imenso de dados e informações na Net e isso inclui dados sobre você. Dê sua opinião em um blog sobre qualquer assunto. Quando digitarem seu nome no Google aquele blog aparecerá com um indicativo de que você escreveu nele. Existe inclusive um serviço online chamado “disqus” que registra vários comentários feitos por você em blogs e sites. É a transparência total. Tudo sobre você está exposto aos olhos de todo o planeta.
E antes que você reclame de qualquer coisa saiba que a culpa é, em parte, sua também. Você coloca nas redes sociais fotos de onde esteve (ou está), o que comeu, hora, data e local de onde esteve ou estará, etc., (as redes sociais são excelentes guias para os sequestradores modernos). Existe, evidentemente, uma contradição ética entre pessoas que exigem direito à privacidade e vivem se expondo... Ou, o que é mais provável, estamos refazendo o conceito de privacidade e permitindo uma vigilância maior sobre nós. Sim, você pensa que é liberdade, mas estamos tratando de controle e vigilância.
Hoje é possível ter todos os seus passos monitorados com o sistema GPS. Ou seja, não só é possível saber quem é você, mas também onde você está.  Uma ditadura totalitária do futuro vai adorar o GPS, ele será a “menina dos olhos” de qualquer ditador. Ele não só terá em arquivo digital tudo sobre você, mas todos os lugares que você frequenta serão conhecidos. O sumiço recente de um avião da Malaysia Airlaines provocou consternação não só por causa do destino trágico das vítimas, mas muito mais porque ele conseguiu desaparecer em uma época em que não é possível desaparecer...
Mas, claro, você deve estar adorando toda essa vigilância. Ela permitirá perseguir e prender os criminosos com mais facilidade. E isso é bom, evidentemente. Mas isso me parece mais uma armadilha. “Não se preocupe”, dizem o Estado e as empresas privadas, “só os bandidos serão vigiados e perseguidos”. É uma visão tão tola e ingênua como a daquelas pessoas que defendem o uso da tortura e da pena de morte achando que só os bandidos serão torturados e mortos... Faça uma armadilha para pegar um pássaro específico. Ele poderá ser capturado, mas qualquer outro pássaro também poderá sê-lo. Cuidado com a armadilha “perfeita” para pegar o pássaro...
O escândalo do sistema norte-americano de vigilância na internet feito pela NSA denunciado por Eduard Snowden talvez seja apenas o início do que poderá vir. O exemplo norte-americano comprova também que esse controle não é feito apenas pelo “Estado opressor”, mas com a colaboração ativa das empresas privadas do setor de tecnologia (entre elas o Google). E se os EUA estão interessados em vigiar cidadãos do mundo inteiro saiba que os russos e chineses também o querem. Saiba também que a contrapartida não será possível. Quando Julian Assange denunciou segredos dos EUA no site Wikileaks tornou-se um pária ameaçado de morte. O mesmo vale para Eduard Snowden por ter denunciado o sistema da NSA. O “grande irmão” pode saber seus segredos, mas você não poderá saber os dele. Isso é democracia?

Aristóteles Lima Santana, 22/07/2014. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A VOLTA DAS "IDEOLOGIAS"



A VOLTA DAS "IDEOLOGIAS"
Há alguns meses atrás no Estado de São Paulo um grupo de manifestantes invadiu um laboratório químico de uma empresa privada de cosméticos. Cães de uma raça particular eram usados como cobaias por esta empresa e isso causou a reação violenta de um grupo preocupado com os pobres animais. Libertar os cães do cativeiro foi o objetivo da ação violenta do grupo. Os animais em questão são belos e nas redes sociais tornou-se popular uma piada que perguntava  porquê estas pessoas não se lembraram das cobras e ratos usados como cobaias em outras instituições... Mais intrigante ainda é que no Brasil temos centenas de trabalhadores em regime de escravidão em algumas fazendas e fábricas. Até agora não houve nenhum grupo disposto a organizar uma invasão a estes estabelecimentos para libertar estes escravos... No Facebook vários defensores dos “animaizinhos” defenderam que humanos (bandidos, corruptos, etc.) sejam usados como cobaias no lugar deles. Ou seja, defendem Aushwitz e Joseph Mengele, embora o seu nível intelectual simplório não permita perceber o que ou quem estão defendendo...
Este pequeno caso ilustra um fenômeno novo nos dias de hoje: o ressurgimento da ideologia. Quando falamos em ideologia não devemos nos reportar apenas àquelas que possuem expressão política, como fascismo, comunismo, anarquismo, liberalismo, etc., embora estas também entrem no debate em questão. Hoje o vegetarianismo e a defesa dos animais possuem características ideológicas, que são: concepção unitária de mundo, objetivo a ser conquistado, valores e ideias a serem defendidos, uma concepção teórica que orienta uma prática e, consequentemente, uma militância envolvida. Você poderá também ver estas características nos movimentos negro, gay e feminista, verá nas igrejas evangélicas e até em um curioso movimento ateísta que surgiu em nível mundial há alguns anos. As redes sociais são o campo de batalha de todos eles que, inclusive, digladiam-se entre si.
O fenômeno pode estar ligado a dois fatores: o primeiro é a procura por uma motivação não mercadológica da vida. O capitalismo anuncia que a função do indivíduo é produzir e consumir. O ideal neoliberal de homem é esse. Ter um sonho? Só se for o de comprar um carro novo; ter um objetivo na vida? Só se for o de ter um emprego mais rentável para consumir mais; ter um objetivo utópico? Esqueça; querer melhorar o mundo? Isso redundará em perda de tempo. Consuma mais e seja feliz, é o recado do capitalismo. Mas como apenas consumir não satisfaz a ânsia humana pela vida, estas pessoas procuram uma razão para sua existência que pode se manifestar em uma causa a ser defendida. O segundo fator é a crise do socialismo iniciada a partir da queda do leste europeu. Na medida em que o socialismo tem dificuldades para se colocar como alternativa real ao capitalismo restou às pessoas que querem sonhar com um mundo novo a procura por outras alternativas.
A extrema direita, que tem se manifestado nas redes sociais e, contraditoriamente, também faz parte do fenômeno, tem batido em todos estes movimentos. Aliás, um curioso livro chamado “Contra um mundo melhor” escrito por um conservador brasileiro pode ser vista como uma possível resposta a este fenômeno social. O consumismo desenfreado é defendido com unhas e dentes pelo pensamento conservador. E isso em pleno anúncio de uma possível hecatombe ecológica para a humanidade...
A tônica dos debates entre muitos destes grupos é o do sectarismo. Perdura dentro deles o espírito de seita. A negação do outro tem permeado muitos embates nas redes sociais. Ateus versus religiosos, vegetarianos versus quem come carne, extrema direita versus extrema esquerda, flamenguistas versus vascaínos, etc. Não se pode falar que permeia em vários militantes destes grupos a busca pelo conhecimento mais amplo. A função do membro de uma seita (seja ela qual for e qual seja o seu objetivo) é mergulhar ainda mais na doutrina da própria seita e tentar negar a doutrina da seita oposta. Raros são os debates construtivos e enriquecedores entre os vários grupos.
Este talvez seja o resultado lógico de um mundo onde se lê pouco e o desespero existencial faz com que a fuga do “admirável mundo novo” do consumismo se dê a partir de uma causa particular em oposição a outras causas particulares. É bom lembrar que a ideologia (qualquer uma) oferece uma visão que não abarca o todo do conhecimento humano e, inclusive, oculta diversos fatores contrários a seus princípios. Louis Althusser disse certa vez que para que Marx e Engels tivessem feito a crítica à ideologia de sua época foi preciso que se posicionassem “fora da ideologia”, ou seja, tiveram que enxergar o todo da realidade social para compreender o papel da ideologia dentro deste todo. Com o sectarismo e o espírito de seita de muitos grupos por ai, este posicionamento é uma tarefa quase impossível para muitos militantes nos dias de hoje.
Aristóteles Lima Santana, 19/02/2014.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A INTERNET E O FIM DA PRIVACIDADE



A INTERNET E O FIM DA PRIVACIDADE
O que é público e o que é privado nos dias de hoje? A sua sexualidade é privada? Tem certeza? Certo, você não comenta sobre ela no Facebook ou Twitter, mas o que garante que o seu (sua) parceiro (a) não o fará? Você fala mal do seu chefe em privado? Um simples celular pode filmar sua fala e expô-la no Youtube. Qualquer ato ou fala sua pode ser gravada e reproduzida por meios eletrônicos hoje. Um dos temas mais discutidos nos dias que correm é sobre o fim da privacidade com a internet. Vivenciamos o auge da sociedade do espetáculo. Tudo pode ser filmado, gravado, fotografado e colocado no Twitter, Facebook ou Youtube. O mais interessante disso é que o fenômeno não está sendo feito apenas pelo “Estado opressor e invasor da privacidade alheia” mas pelos próprios indivíduos com seus semelhantes e consigo mesmos. Na verdade as redes sociais são “vitrines vivas” onde a intimidade dos outros ou do próprio indivíduo é escancarada, em alguns casos chegando a extremos ridículos.
Esta discussão às vezes fica complicada quando alguém interpelado sobre o assunto declara em alto e bom som: “ninguém pode impedir minha individualidade, vou postar o que quiser no Facebook”. Certo, desde que você não reclame dos comentários. Se uma informação torna-se pública significa que o público pode manifestar-se sobre ela. E, claro, estamos falando também da invasão da privacidade dos outros.
Com tantos recursos tecnológicos visuais facilmente encontráveis e manipuláveis a possibilidade de que sua vida possa ser invadida e exposta em público aumentou consideravelmente. Ao se criar uma nova tecnologia modificam-se certos hábitos culturais. Não há dúvidas de que o voyeurismo e o narcisismo tornaram-se fenômenos de massa na internet.
Mas por que este debate é tão importante? Bem, os exemplos que temos de fim da privacidade proveem, tanto em termos práticos como literários, do totalitarismo. As ditaduras totalitárias que conhecemos limitaram a privacidade de seus cidadãos. A vigilância do Estado cercou o indivíduo a ponto de sua vida privada ser constantemente vigiada. A delação foi estimulada. Não há dúvidas de que Hitler, Stálin e Mussolini adorariam o Youtube e os celulares com capacidade para filmar e fotografar. Em “Farenheit 451” Ray Bradbury narra a vida de cidadãos proibidos de ter ou ler livros em sua própria casa e todos são estimulados a delatar os desobedientes; em “1984” o célebre George Orwell antecipa a atual mania paranoica das câmaras de vigilância, inclusive dentro das residências particulares, com o intuito de vigiar o comportamento dos cidadãos; em “Nós”, escrito ainda nos anos 20 do século passado pelo russo Zamiátin, todas as casas do futuro são descritas como sendo de vidro transparente. Assim a polícia e todo mundo fica sabendo o que se passa no interior delas. O fim total da privacidade.
Você pode argumentar que os regimes totalitários e as ditaduras são casos específicos e que vivemos em uma democracia. Claro que vivemos. Por enquanto. Mas quem disse que ela durará para sempre? A história e a luta de classes são dinâmicas e novas ondas autoritárias poderão vir no futuro. Uma nova ditadura que porventura venha a existir no futuro adorará toda esta parafernália eletrônica e a utilização delas para a vigilância e a delação. O pior de tudo é que a atitude corrente de quebrar a nossa privacidade e a dos outros tornará a população apta a aceitar de bom grado, em virtude do costume e do discurso da “segurança”, este tipo de prática. O fim da privacidade é a ascensão da delação. A próxima ditadura vai amar isso.
Aristóteles Lima Santana, 15/11/2013.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O FATOR MARINA SILVA



O FATOR MARINA SILVA
Marina Silva filiou-se ao PSB de Eduardo Campos. Para muitos ela será a vice na chapa para presidente da república, com Campos na cabeça. Como se sabe Marina tentou registrar um partido, o Rede Sustentabilidade, que reunia elementos diversos da esquerda, direita e centro. Tanta diversidade fez Marina repetir a famosa frase de Kassab: “nosso partido nem será de direita, nem de esquerda e nem de centro”. Além disso, ela foi adiante e afirmou que  a Rede era uma forma diferente de  se fazer política. Só não explicou como fazer isso tendo apoio de políticos profissionais...
A história de Marina confunde-se com a do PT, principalmente no Acre. Ela fez parte das bases do grupo de Chico Mendes, um destacado herói defensor da selva amazônica e dos trabalhadores seringueiros. Ele foi assassinado de forma bárbara e sua fama , que já era internacional, aumentou consideravelmente. Marina Silva é sua grande herdeira política. Já foi senadora, ministra do governo Lula e candidata à presidência da república em 2010, sendo muito bem votada.
O bom desempenho eleitoral de Marina em 2010 fez dela uma carta especial no baralho das eleições em 2014. Ela pode forçar um segundo turno (como em 2010), mas pode, inclusive, tirar o PSDB do segundo turno. No caso da aliança com Campos, ela torna a candidatura do PSB competitiva. Como Dilma está bem nas pesquisas, o PSDB tem que se preocupar.
A aliança entre Marina e Eduardo Campos tem alguns problemas. Ela é defensora de políticas de sustentabilidade ambiental, o que se costuma chamar de Desenvolvimento Sustentável. Isso quer dizer impor limites, ou mesmo impedir, obras públicas como hidrelétricas e outros tipos de usinas, como a nuclear. Já Eduardo Campos é um defensor do desenvolvimentismo (tal como Lula e Dilma). Como eles chegaram a um consenso sobre essa aliança ainda é um mistério.
Um outro problema em Marina é sua filiação ao fundamentalismo religioso evangélico. Ela teve até a infeliz ideia de se solidarizar com Marco Feliciano quando ele se viu cercado de críticas. O PSB é um partido laico e em seu programa consta a defesa do Estado laico. Se laicismo e fanatismo religioso são dois polos opostos como é que eles chegaram a um acordo sobre esse tema?
Marina foi candidata em 2010 pelo PV (Partido Verde), posteriormente ela puxa, junto com lideranças de vários partidos, o Rede Sustentabilidade que, em suas palavras, seria “uma nova forma de se fazer política”. Nunca ficou muito claro o que seria essa nova forma. Vários políticos tradicionais, da direita, esquerda e centro estão com ela. Velhas raposas da política a apoiam. O pior de tudo é que o Rede teria que se registrar como partido político, ou seja, a “novidade” teria que usar um traje tradicional. Não conseguiram o número mínimo para registrar o partido. É bom lembrar que o PSOL teve que passar pelo mesmo processo e conseguiu. Já a “grande novidade” de Marina não conseguiu passar pelo primeiro teste. Melhor para o PSB.
Aristóteles Lima Santana, 15/10/2013.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

INTERNET : A TERRA SEM LEI



INTERNET: A TERRA SEM LEI
O que é o “Universo paralelo”? Um lugar onde tudo é possível? Onde todas as regras podem ser quebradas? Onde posso ser e ter o que desejo? Parece que a internet é atraente para as massas porque em parte ela satisfaz a ilusão de conseguir viver em um mundo paralelo. Com o recurso do “photoshop” é possível apresentar-se com mais beleza do que aquela que se possui; com frases e posts bem escritos pode-se ser mais cortês e educado, talvez até mais sábio, do que se é; a menina (ou garoto) que não fica com ninguém em festas pode subitamente tornar-se popular com seus mil amigos no facebook.  O artificialismo parece que será um companheiro constante nesta época em que vivemos: rapazes tomam drogas para acelerar a construção da musculatura na academia; marketeiros mudam a imagem dos políticos tornando-os mais artificiais do que já eram; o “photoshop” faz milagres nas fotos e é largamente utilizado nas redes sociais, etc. Com toda esta valorização da artificialidade não é de se estranhar que a internet se torne uma febre. Ao apresentar-se como “mundo paralelo” ela permite a ilusão de ser outra pessoa e de ter outra vida.
Mas não apenas isso. A internet também libera monstros razoavelmente ocultos dentro de nós. A agressividade racista, homofóbica e machista se faz presente de forma ostensiva neste novo universo. Aquilo que não é falado no bar, na rua ou em casa (lugares reais) pode ser dito no mundo artificial paralelo. O rapaz, ou moça, homossexual libera suas fantasias, recalcadas na vida real, no twitter ou facebook. O homofóbico também libera seu ódio, reprimido no mundo real, contra eles nas mesmas instâncias. Liberar ódios reprimidos tornou-se uma mania nas redes sociais. E isso terá (tem) consequências na sociabilidade dos indivíduos. A tentação de fazer na vida real aquilo que se faz na vida paralela será sempre constante.
A internet parece que realiza um antigo desejo humano: encontrar um “não-lugar” (outro nome para Universo paralelo) onde tudo será possível. Todas as fantasias sexuais, inclusive as mais bizarras, serão realizadas; todos serão belos e felizes e todos notarão a sua presença no mundo. Sobre este último item é preciso afirmar que a privacidade é um crime nas redes sociais. Ser visto e ser notado é uma obrigação para o indivíduo. Uma nova (ou em novo formato) paranoia de massas.
Mas você leitor deve estar se perguntando: o que há de errado em realizar fantasias sexuais? O que há de errado em querer ser mais belo e feliz? O que há de errado em querer ser popular? Vamos por partes. Não há problema nenhum em realizar uma fantasia sexual desde que a parceira (ou parceiro) esteja de comum acordo. Nunca se esqueça que o estupro também é uma fantasia sexual, sem falar em outras bizarrices mais absurdas... Não há nada de errado em querer ser mais belo, feliz ou popular, desde que isso não se torne uma obsessão paranoica. Nunca se esqueça que existem pessoas que se sentem felizes ao humilhar outras e que matar alguém relativamente famoso é uma forma prática de conseguir popularidade. Além do mais o que o mundo paralelo da internet oferece não é a realização da fantasia, mas a ilusão dela. Todas as pessoas que usam o “photoshop” terão que se apresentar em seu formato real nas festas e eventos públicos... Também o excesso de padronização da beleza e da felicidade excluem todos os que não estão dentro dos padrões.
 O mundo paralelo não é distante de nós. Ele é, ao mesmo tempo, projeção de nossos medos e desejos interiores e realização prática tecnológica deles. Ele invade o mundo real com força e violência e modifica nossa sociabilidade. A explosão do problema do bulling nada mais é do que a extensão real desta padronização e do cruzamento entre os dois mundos.
Sexo, drogas, rivalidades políticas ou futebolísticas, não importa o tema, a internet é uma terra sem lei, ou aparenta ser assim. Um mundo paralelo onde tudo, ou quase tudo, pode ser permitido. Onde ódios, frustrações, fantasias bizarras e insanidades podem ser liberadas, onde um mundo artificial de felicidade e beleza pode ser construído, onde um “eu” falso pode substituir um “eu” verdadeiro. Onde a fantasia pode, ao menos temporariamente, substituir a realidade. Mas, cuidado. Tudo tem o seu preço. Não se pode viver imerso na fantasia sem as consequências na realidade.
Aristóteles Lima Santana, 09/09/2013.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

IMPRESSORA 3D




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Me imprime um x-salada?
Por Luli Radfahrer em 27/08/2013 na edição 761
Reproduzido da Folha de S.Paulo, 26/8/2013; intertítulo do OI
http://observatoriodaimprensa.com.br/images/botao-impressao.pnghttp://observatoriodaimprensa.com.br/images/botao-enviar-por-email.png
A nova revolução tecnológica já chegou. Ela não é um telefone, TV, óculos ou carro elétrico sem piloto. Apple e Samsung ainda não se apropriaram do seu mercado, capitalistas ainda não torram fortunas em iniciativas na área. Mas isso deve mudar, já que a nova tecnologia tornará obsoletos boa parte dos processos industriais conhecidos.
Ela é a impressão tridimensional. Aos olhos de hoje não parece grande coisa, na forma de maquininhas rudimentares imprimindo bonequinhos e chaveiros. O processo, lento e impreciso, não empolga mais do que alguns nerds ortodoxos.
No entanto, basta uma pequena comparação histórica para se perceber que o mesmo aconteceu com a microinformática. Seriam as impressoras de hoje equivalentes às velhas matriciais?
Sim e não. A impressão 3D tem tudo para ser um negócio gigantesco. Usando materiais tão diversos quanto plástico, cera, resina, papel, vidro, tecidos ou metais, a tecnologia converte algoritmos em objetos, com a mesma facilidade que hoje se imprime uma página de texto.
O que vem pela frente
O processo é razoavelmente simples. Imagens criadas a partir de programas de ilustração ou digitalizadas em três dimensões são interpretadas por um PC e convertidas em instruções para que a máquina construa objetos camada a camada, em um processo similar ao da impressão linha a linha.
Como na impressão bidimensional, essa tecnologia tende a criar três camadas de serviços. Em casa, máquinas baratas e imprecisas poderão fazer protótipos de todos os tipos. Pequenas empresas produzirão objetos em menor escala com qualidade bem razoável. Em hangares industriais, máquinas de precisão serão capazes de imprimir automóveis ou casas, com personalização e detalhe não imaginados. De posse do algoritmo e das matérias-primas certas, pode-se imprimir praticamente qualquer coisa, de próteses dentárias a armas.
Para facilitar a modelagem, empresas como a AutoDesk, criadora do popular AutoCad, disponibilizou um aplicativo que permite a qualquer pessoa criar um modelo 3D a partir de fotografias tiradas com um smartphone. O conjunto de fotos é enviado pela rede para os servidores da empresa, que deduzem a partir delas o tamanho e formato do objeto a digitalizar. Simples assim.
Se até um conjunto de fotos de smartphone pode gerar modelos para impressão, o que dizer de imagens e impressoras mais detalhadas? Médicos têm usado equipamentos 3D para criar próteses a partir de tomografias. Alguns pesquisadores tentam usar a tecnologia para, a partir de células vivas, “imprimir” músculos e cartilagens. Outros desenvolvem protótipos do que poderão ser impressoras de DNA.
As novas ideias desafiam a imaginação. Uma empresa de engenharia tenta criar uma impressora de pizzas, para que astronautas possam ter uma alimentação variada. Se der certo, a padaria da esquina pode ser capaz de imprimir lanches.
As invenções de alguns pioneiros já dão uma boa ideia das mudanças que podem ocorrer em um futuro próximo. Máquinas como essas podem redefinir completamente o processo industrial, de logística e até a exploração de recursos, transformando lixões, aterros e desmanches em novas minas de ouro.
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Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP e colunista da Folha de S.Paulo; mantém o blog www.luli.com.br

Fonte: Observatório da imprensa.