A COMISSÃO DA VERDADE
A presidente Dilma já nomeou a Comissão da Verdade e
Justiça. Os nomes apresentados para integrá-la são bons, mas as condições que
terão para trabalhar não serão as mais agradáveis. Ela não terá poder para
impor a ninguém a obrigação de testemunhar e os depoimentos que porventura
venham a existir não serão públicos. O período que será investigado será muito
longo: 1946 a 1988, ou seja, ultrapassará o período do regime militar e, se
você quiser saber, nem sequer existe uma previsão orçamentária para o seu
funcionamento.
Para quê a Comissão da Verdade? Para punir os responsáveis
por torturas e assassinatos durante a ditadura militar no Brasil ocorrida entre
1964 e 1985. Em vários países uma tal comissão já foi formada, pois ela é uma
exigência tanto de setores da sociedade civil como de órgãos internacionais
como a OEA, o Tribunal Penal Internacional e a ONU. Não se trata, portanto, de
uma “revanche” da esquerda, mas de luta pela justiça a partir da punição de
torturadores e assassinos.
Alguns mitos propagados pela direita tentam descaracterizar
a necessidade da Comissão da Verdade. Um primeiro mito diz que os agentes da
ditadura “cumpriam ordens” e estavam em guerra com o “terrorismo” de grupos
armados contrários ao governo. Mas o governo da ditadura militar não era
legítimo, ele era fruto de um golpe de Estado ocasionado em 1964. Os
governantes não haviam sido eleitos pelo povo. O regime de 64 tem o estatuto de
Tirania e, sendo assim, não pode ser reconhecida nele nenhuma legitimidade. E
mesmo que tivesse não há lugar nenhum do mundo em que representantes de um
governo legítimo tenham autorização para matar e torturar.
E os grupos armados? Não leiam Lênin, Mao ou Guevara.
Procurem Thomas Hobbes e outros teóricos do Contrato Social, pensadores do
moderno Estado burguês. Neles vocês encontrarão as maiores justificativas para
a rebelião armada contra a ditadura. Para os Contratualistas a Tirania era a
quebra do Contrato e o Tirano era um usurpador, contra ele vale tudo. A ideia
de que ambos os lados são “iguais” e merecem ou serem anistiados ou punidos
juntos é mera mistificação. Na França em 1946 os colaboradores de Petain foram
para o banco dos réus. Não tinha lógica julgar os membros da resistência
francesa junto com eles. Nenhum membro da rebelião do gueto de Varsóvia foi
julgado no Tribunal de Nuremberg ao lado dos criminosos nazistas. Vítimas são
vítimas, algozes são algozes.
Um segundo mito
propagado pela direita brasileira é a validade da anistia dada pelo
presidente João Figueiredo em 1979. Nela estão incluidos tanto os militares
como os guerrilheiros. Esta anistia não tem validade internacional. Ela não tem
validade para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, ligada à OEA, e para
o Tribunal Penal Internacional. Estas cortes não adimitem anistia para quem
cometeu crimes de tortura e assassinato a serviço do Estado. O Brasil faz parte
destas instituições e já foi condenado em 2010 pela corte da OEA por não ter
punido os militares que participaram da repressão à guerrilha do Araguaia.
Como dá para perceber Dilma tem recebido muitas pressões
internas e externas para instaurar a comissão da verdade. A nossa já é tardia.
Vários países vizinhos ao Brasil já puniram torturadores e assassinos. Do jeito
que está a Comissão terá muitas dificuldades para investigar e punir, mas a
partida não está perdida. Com mais pressões internas e externas a presidente
Dilma, que tem em sua biografia uma parcela dessa história de resistência à
ditadura, poderá tomar medidas mais drásticas e contundentes.
Aristóteles Lima Santana, 13/06/2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário