A OCUPAÇÃO ESTUDANTIL DO IFBA EM PAULO AFONSO
Seguindo a atual onda de ocupações estudantis em protesto
contra a PEC 241, os estudantes do IFBA
ocuparam a unidade de Paulo Afonso. No dia dezoito de outubro uma grande
assembleia convocada pelo grêmio local reuniu a maior parte dos estudantes e
eles aprovaram a ocupação. A decisão da assembleia foi precedida por
paralizações anteriores e debates sobre
a educação no país. Entre eles a consciência da necessidade de combater a PEC
241 é alta. A ocupação é acompanhada por debates constantes, palestras e
oficinas, o que anula as calúnias dirigidas pela direita nas redes sociais
sobre a suposta falta de preparo destes alunos para debater um assunto tão
importante. Eles estão, inclusive, debatendo (e recusando) a reforma do ensino
médio claramente influenciada pelo movimento direitista “escola sem partido”.
Na conversa que tive com os alunos do IFBA deu para perceber como as calúnias
dirigidas contra eles subestimam sua capacidade de entendimento e mobilização.
Em Paulo Afonso temos uma amostra de como isso acontece no resto do país. Essa
onda de ocupações, que tem hoje o Paraná como seu centro mais impactante, já
foi precedida por outra em São Paulo. O golpe já foi dado, uma nova direita
cresceu, mas o jogo ainda não acabou. Ressurge hoje um novo movimento
estudantil de massas.
Apartidário e preocupado com os rumos da educação no país;
preocupado com sua formação técnica, mas também com sua formação humanista;
antenado com problemas do presente, mas querendo evitar um futuro tenebroso,
este talvez seja o melhor retrato do estudante que hoje ocupa escolas em nosso
país. Eles estão conscientes de que as reformas propostas por Temer vão na
contramão de qualquer projeto de nação desenvolvida.
Contra o movimento de ocupações hoje tem a grande mídia, a
militância direitista nas redes sociais e a organização MBL (Movimento Brasil
Livre). Grupo de extrema direita que nesta semana entrou em conflito físico com
estudantes no Paraná. O MBL corresponde
hoje ao que foi o CCC (Comando de caça aos comunistas) nos anos 60 e o que foi
a AIB (Ação integralista brasileira) nos anos 30. Mudou-se a sigla e a época,
mas o papel político é o mesmo: o de milícia fascista para combater os
movimentos sociais. Em épocas de
confronto social e crise política as milícias fascistas são auxiliares
indiretos da repressão do Estado. Podem, inclusive, partir para ações
criminosas.
Alguns argumentos medíocres são usados para combater as
ocupações. Um deles diz respeito ao direito dos estudantes que não participam
das manifestações de poderem estudar. Esquecem que escola não é só formação
profissional. A escola reproduz dentro de seus muros as contradições da
sociedade. Os conflitos, os preconceitos, os debates intelectuais, técnicos,
políticos, etc. Em momentos históricos em que a sociedade ferve em conflitos a
escola não fica de fora. Seja puxado por alunos ou professores (ou ambos), a
escola acaba se tornando um dos palcos, às vezes o principal, das disputas
sociais. A consciência política não é igual em todos os cidadãos e não seria
diferente entre os estudantes. Mas as ocupações estão sendo feitas onde existem
assembleias em que a maioria dos estudantes estão presentes e aprovam o ato de
ocupação. A decisão é democrática e quem é contra é livre para manifestar-se.
Não há nada de autoritário nisso, até muito pelo contrário.
Na Bahia , até o presente momento, existem ocupações em
Valença, Vitória da Conquista, Eunápolis, Irecê, Ilhéus e Paulo Afonso. Ainda é
um movimento em desenvolvimento, mas já é uma luz no meio de tanta
subserviência ao golpe. A PEC 241 já foi aprovada na Câmara e o direito de
greve dos servidores públicos foi cassado pelo STF. Os golpistas triunfantes
estavam seguros de que haveria pouca resistência. Foram pegos de surpresa pelos
estudantes.
Aristóteles Lima Santana, 29/10/2016.