INTERNET: A TERRA SEM LEI
O que é o “Universo paralelo”? Um lugar onde tudo é
possível? Onde todas as regras podem ser quebradas? Onde posso ser e ter o que
desejo? Parece que a internet é atraente para as massas porque em parte ela
satisfaz a ilusão de conseguir viver em um mundo paralelo. Com o recurso do
“photoshop” é possível apresentar-se com mais beleza do que aquela que se
possui; com frases e posts bem escritos pode-se ser mais cortês e educado,
talvez até mais sábio, do que se é; a menina (ou garoto) que não fica com
ninguém em festas pode subitamente tornar-se popular com seus mil amigos no
facebook. O artificialismo parece que
será um companheiro constante nesta época em que vivemos: rapazes tomam drogas
para acelerar a construção da musculatura na academia; marketeiros mudam a
imagem dos políticos tornando-os mais artificiais do que já eram; o “photoshop”
faz milagres nas fotos e é largamente utilizado nas redes sociais, etc. Com
toda esta valorização da artificialidade não é de se estranhar que a internet
se torne uma febre. Ao apresentar-se como “mundo paralelo” ela permite a ilusão
de ser outra pessoa e de ter outra vida.
Mas não apenas isso. A internet também libera monstros
razoavelmente ocultos dentro de nós. A agressividade racista, homofóbica e
machista se faz presente de forma ostensiva neste novo universo. Aquilo que não
é falado no bar, na rua ou em casa (lugares reais) pode ser dito no mundo
artificial paralelo. O rapaz, ou moça, homossexual libera suas fantasias,
recalcadas na vida real, no twitter ou facebook. O homofóbico também libera seu
ódio, reprimido no mundo real, contra eles nas mesmas instâncias. Liberar ódios
reprimidos tornou-se uma mania nas redes sociais. E isso terá (tem)
consequências na sociabilidade dos indivíduos. A tentação de fazer na vida real
aquilo que se faz na vida paralela será sempre constante.
A internet parece que realiza um antigo desejo humano:
encontrar um “não-lugar” (outro nome para Universo paralelo) onde tudo será
possível. Todas as fantasias sexuais, inclusive as mais bizarras, serão
realizadas; todos serão belos e felizes e todos notarão a sua presença no
mundo. Sobre este último item é preciso afirmar que a privacidade é um crime
nas redes sociais. Ser visto e ser notado é uma obrigação para o indivíduo. Uma
nova (ou em novo formato) paranoia de massas.
Mas você leitor deve estar se perguntando: o que há de
errado em realizar fantasias sexuais? O que há de errado em querer ser mais
belo e feliz? O que há de errado em querer ser popular? Vamos por partes. Não
há problema nenhum em realizar uma fantasia sexual desde que a parceira (ou
parceiro) esteja de comum acordo. Nunca se esqueça que o estupro também é uma
fantasia sexual, sem falar em outras bizarrices mais absurdas... Não há nada de
errado em querer ser mais belo, feliz ou popular, desde que isso não se torne
uma obsessão paranoica. Nunca se esqueça que existem pessoas que se sentem
felizes ao humilhar outras e que matar alguém relativamente famoso é uma forma
prática de conseguir popularidade. Além do mais o que o mundo paralelo da
internet oferece não é a realização da fantasia, mas a ilusão dela. Todas as
pessoas que usam o “photoshop” terão que se apresentar em seu formato real nas
festas e eventos públicos... Também o excesso de padronização da beleza e da
felicidade excluem todos os que não estão dentro dos padrões.
O mundo paralelo não é distante de nós. Ele é, ao mesmo tempo, projeção de nossos medos e desejos interiores e realização prática tecnológica deles. Ele invade o mundo real com força e violência e modifica nossa sociabilidade. A explosão do problema do bulling nada mais é do que a extensão real desta padronização e do cruzamento entre os dois mundos.
O mundo paralelo não é distante de nós. Ele é, ao mesmo tempo, projeção de nossos medos e desejos interiores e realização prática tecnológica deles. Ele invade o mundo real com força e violência e modifica nossa sociabilidade. A explosão do problema do bulling nada mais é do que a extensão real desta padronização e do cruzamento entre os dois mundos.
Sexo, drogas, rivalidades políticas ou futebolísticas, não
importa o tema, a internet é uma terra sem lei, ou aparenta ser assim. Um mundo
paralelo onde tudo, ou quase tudo, pode ser permitido. Onde ódios, frustrações,
fantasias bizarras e insanidades podem ser liberadas, onde um mundo artificial
de felicidade e beleza pode ser construído, onde um “eu” falso pode substituir
um “eu” verdadeiro. Onde a fantasia pode, ao menos temporariamente, substituir
a realidade. Mas, cuidado. Tudo tem o seu preço. Não se pode viver imerso na
fantasia sem as consequências na realidade.
Aristóteles Lima Santana, 09/09/2013.
2 comentários:
Texto absolutamente fabuloso, Aristóteles. Parabéns pelo trabalho.
Ótimo texto, bem oportuno para a vivencia virtual atual!Parabéns
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