Me imprime um x-salada?
Por Luli
Radfahrer em 27/08/2013 na edição 761
Reproduzido da Folha de
S.Paulo, 26/8/2013; intertítulo do OI
A nova
revolução tecnológica já chegou. Ela não é um telefone, TV, óculos ou carro
elétrico sem piloto. Apple e Samsung ainda não se apropriaram do seu mercado,
capitalistas ainda não torram fortunas em iniciativas na área. Mas isso deve
mudar, já que a nova tecnologia tornará obsoletos boa parte dos processos
industriais conhecidos.
Ela é a
impressão tridimensional. Aos olhos de hoje não parece grande coisa, na forma
de maquininhas rudimentares imprimindo bonequinhos e chaveiros. O processo,
lento e impreciso, não empolga mais do que alguns nerds ortodoxos.
No
entanto, basta uma pequena comparação histórica para se perceber que o mesmo
aconteceu com a microinformática. Seriam as impressoras de hoje equivalentes às
velhas matriciais?
Sim e
não. A impressão 3D tem tudo para ser um negócio gigantesco. Usando materiais
tão diversos quanto plástico, cera, resina, papel, vidro, tecidos ou metais, a
tecnologia converte algoritmos em objetos, com a mesma facilidade que hoje se
imprime uma página de texto.
O que vem
pela frente
O
processo é razoavelmente simples. Imagens criadas a partir de programas de
ilustração ou digitalizadas em três dimensões são interpretadas por um PC e
convertidas em instruções para que a máquina construa objetos camada a camada,
em um processo similar ao da impressão linha a linha.
Como na
impressão bidimensional, essa tecnologia tende a criar três camadas de
serviços. Em casa, máquinas baratas e imprecisas poderão fazer protótipos de
todos os tipos. Pequenas empresas produzirão objetos em menor escala com
qualidade bem razoável. Em hangares industriais, máquinas de precisão serão
capazes de imprimir automóveis ou casas, com personalização e detalhe não
imaginados. De posse do algoritmo e das matérias-primas certas, pode-se
imprimir praticamente qualquer coisa, de próteses dentárias a armas.
Para
facilitar a modelagem, empresas como a AutoDesk, criadora do popular AutoCad,
disponibilizou um aplicativo que permite a qualquer pessoa criar um modelo 3D a
partir de fotografias tiradas com um smartphone. O conjunto de fotos é enviado
pela rede para os servidores da empresa, que deduzem a partir delas o tamanho e
formato do objeto a digitalizar. Simples assim.
Se até um
conjunto de fotos de smartphone pode gerar modelos para impressão, o que dizer
de imagens e impressoras mais detalhadas? Médicos têm usado equipamentos 3D
para criar próteses a partir de tomografias. Alguns pesquisadores tentam usar a
tecnologia para, a partir de células vivas, “imprimir” músculos e cartilagens.
Outros desenvolvem protótipos do que poderão ser impressoras de DNA.
As novas
ideias desafiam a imaginação. Uma empresa de engenharia tenta criar uma
impressora de pizzas, para que astronautas possam ter uma alimentação variada.
Se der certo, a padaria da esquina pode ser capaz de imprimir lanches.
As
invenções de alguns pioneiros já dão uma boa ideia das mudanças que podem
ocorrer em um futuro próximo. Máquinas como essas podem redefinir completamente
o processo industrial, de logística e até a exploração de recursos,
transformando lixões, aterros e desmanches em novas minas de ouro.
***
Luli
Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de
Comunicações e Artes) da USP e colunista da Folha de S.Paulo; mantém
o blog www.luli.com.br
Fonte: Observatório da imprensa.
Um comentário:
Acho vital essas tais evoluções. Para muitos projetos, principalmente nas áreas de engenharia, arquitetura, design,e, até de gestão ambiental... Uma impressora 3d é a modernidade que está faltando... Agora comer coisas impressas... Não sei se a pitada de sal vai ser a mesma dada à mão. Nesse caso, gosto mais do outro jeito.
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