O MONSTRO E A COMISSÃO
Uma polêmica tem mobilizado cidadãos e militantes de váriso
partidos, gêneros, etnias e orientação sexual nas redes sociais e fora delas: a
nomeação do deputado federal Marco Feliciano, do PSC, para a presidência da
Comissão de direitos humanos da Câmara Federal. O deputado Feliciano é
conhecido já há algum tempo por manifestações públicas de racismo, homofobia e
machismo. Sua ideologia está resumida em três posições: negros foram
amaldiçoados por deus (em uma determinada ocasião ele chegou a declarar que
“nascer negro é azar”), homossexuais são aberrações e mulheres devem se
submeter aos homens. Sobre as mulheres ele chegou a declarar que os direitos
das mulheres em nossa sociedade estão destruindo a família. Chegou até a afirmar
que a mulher independente e que trabalha fora tem tendências ao lesbianismo.
Até erros grosseiros do passado ele ressucitou, em uma de suas falas declarou
que a AIDS era um “câncer gay”, termo usado no início dos anos 80 do século
passado quando pensava-se que apenas homossexuais pegavam a doença. A afirmação
do deputado sabe-se há muito tempo é absurda, pois tanto heterossexuais quanto
homossexuais podem ser contaminados pelo vírus fatal.
A Comissão de direitos humanos da Câmara é importante porque
é através dela que o Congresso fiscaliza a questão dos direitos humanos no
Brasil e é a partir dela que novas leis podem ser lançadas ao plenário para se
fazer avançar (ou regredir, como quer Feliciano) os direitos humanos no Brasil.
Ter um neonazista na presidência de uma comissão destas é o cúmulo do absurdo.
Dentro da polêmica Feliciano tem seus defensores, a maioria
são evangélicos conservadores, principalmente da própria igreja do deputado.
São pessoas que acham que os ataques à Feliciano são dirigidas à sua religião.
Mas ninguém questiona o fato dele ser evangélico, pois no Brasil a constituição
garante o direito de livre escolha religiosa. O grande problema é que ele de
forma extremamente agressiva ataca negros, mulheres e homossexuais. É bom
lembrar que a constituição brasileira declara que o Brasil é um Estado laico,
ou seja, em nosso país todos devem ter o livre direito de escolher sua
religião, mas doutrina religiosa nenhuma pode gerenciar os negócios do Estado.
Também é bom lembrar que no Brasil o racismo é crime, Feliciano já deveria ter tido
seu mandato cassado há muito tempo e ido para a cadeia por suas declarações
sobre os negros. Aliás, nem todos os evangélicos estão com ele, pois um
abaixo-assinado de vários pastores de várias denominações se manifestaram
contra a sua permanência na comissão. Dentro da população evangélica também
existem negros e mulheres e muitos não gostaram das afirmações do deputado.
A ascenção de Feliciano lembra um caso parecido da história
norte-americana, embora em condições diferenciadas. No início dos anos 50 nos
EUA um senador chamado Josef MaCcarthy chegou à presidência de uma comissão do
senado chamada “Comissão para investigação de atividades anti-americanas”. O
dito senador era ultra-conservador, racista, homofóbico e anti-comunista
convicto, um Feliciano em versão norte-americana. O problema é que a dita
comissão do senado tinha poder de investigação e a partir daí MaCcarthy iniciou
um processo de perseguição fascista sem precedentes na história dos EUA a
judeus, homossexuais e comunistas. As sessões desta comissão eram humilhações
públicas para as pessoas chamadas a depor, com acompanhamento da imprensa,
inclusive. Um verdadeiro tribunal inquisitorial que tentava forçar pessoas a
entregar nomes de amigos e parentes como “culpados” à dita comissão. Conhecida
como “período maccarthista”, foi uma experiência terível que deixou um rastro
de traumas e mortes na história norte-americana.
Por sorte a comissão que Feliciano dirige não tem o mesmo
poder e nem o mesmo propósito, mas o caso MaCcarthy é um claro aviso de o
quanto é perigoso deixar um louco fascista como ele chegar em posições altas de
poder.
No momento em que escrevo a oposição a Feliciano cresce a
cada dia nas ruas e nas redes sociais. Várias passeatas foram organizadas em
capitais do Brasil e no Rio de Janeiro Marcelo Freixo puxou uma frente popular
contra Feliciano, com a presença de muitas lideranças populares e artistas. Até
a Anistia Internacional pronunciou-se publicamente contra a presença de
Feliciano na comissão. Um cerco fecha-se sobre ele, seu partido e sobre a base
aliada do governo que facilitou equivocadamente sua chegada na presidência da
comissão. Avaliaram de forma absurda que não haveria reação da sociedade. Um
erro tático cometido faltando apenas um ano para as eleições presidenciais.
Este caso talvez demosntre que vender a própria mãe e os poucos princípios que
restam para garantir a governabilidade não parece ser um bom negócio.
Aristóteles Lima Santana, 26/03/2013.
Um comentário:
Tomara que esse caso do Feliciano tenha logo um final feliz e que ele deixe a Comissão de Direitos Humanos.
É hipocrisia ter alguém com idéias neo-nazistas num cargo que deveria defender o direito à igualdade.
Glauber Maia
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