Este é um dos maiores cult movies da história do cinema. Um clássico
da ficção científica que teve influência sobre a geração rebelde dos
anos 60. A produção de 1951 conta a história de Klaatu, um viajante do
espaço que vem à terra dar um aviso à humanidade sobre os perigos do
poder nuclear. Na verdade um aviso e uma ameaça: ou a terra parava com
as guerras ou ela seria destruida. Klaatu afirma que vem em nome de uma
suposta confederação de planetas que vem monitorando a terra há muito
tempo e que ficaram assustados com o recente domínio da energia nuclear
pelo homem. Esta suposta civilização estelar considera a raça humana
como primitiva e violenta e tem medo desta violência chegar até eles.
Klaatu é um estranho pacifista: a paz deve existir mas sob a ameaça da
destruição completa. Ele mesmo conta que Gork, o robô que o acompanha na
viagem, representa uma raça de robôs policiais superpoderosos que
garantem, sob a ameaça de destruí-los, que eles não lutem entre si.
Assim eles evitam as guerras e orientam suas energias para outras
atividades.
Um amigo meu alertou para a confluência do discurso de
Klaatu e o de George W. Bush: o presidente dos EUA também vai ao Iraque
e ao Afeganistão dizer a estes povos que eles são inferiores e que ou
eles passam a viver numa "democracia" ou serão destruidos. Com a
ressalva, claro, de que Klaatu não vem roubar nimguém e o grande
interesse de Bush no Oriente Médio é passar a mão no petróleo dos
árabes. O filme passa, evidentemente, uma visão pessimista da humanidade
pois esta só poderia viver em paz sob ameaça e não por um processo dee
evolução histórico-cultural. O curioso é que durante a guerra fria
falou-se muito do "equilíbrio pelo terror", ou seja os EUA e antiga URSS
tinham condições de destruir pela guerra nuclear a terra várias vezes e
como um tinha medo do outro e da mútua destruição, acabavam evitando o
confronto direto.
O filme também pode ser apontado como um sintoma
da nossa cultura: a fixação nos discos voadores. Antes de Klaatu
estrear no cinema já haviam os aficcionados por discos voadores e
surgiam nos EUA vários depoimentos de contatos com extraterrestres, uma
mania que se espalharia pelo mundo nos anos seguintes. A chamada
ufologia espalhou-se e tem revistas especializadas, escritores que
colhem dados sobre os supostos contatos, encontros internacionais, etc. O
sucesso do seriado "Arquivo X" nada mais é que um espelho deste sintoma
da cultura moderna.
No passado o homem ansiaava (e imaginava)
contatos com seres vindos dos céus, os relatos antigos nos falam de
supostos deuses, anjos e messias que traziam mensagens de paz (ou de
guerra). A atual cultura dos discos voadores nada mais é que a
transposição desta cultura antiga para moldes mais modernos. Como dizia
Carl Sagan se estivéssemos na Antiguidade os supostos seres
extraterrestres seriam deuses ou anjos, como estamos na era da ciência e
das viagens espaciais os supostos deuses ou anjos viraram seres
extraterrestres. Deus (ou deuses, ou anjos, ou messias) e Klaatu são
personagens de um mesmo desejo humano: o de que "alguém" lá em cima nos
observa e possa vir até nós trazendo uma mensagem que nos salve.
No
filme Klaatu dá uma demonstração de força parando toda a energia da
terra (como ele é bonzinho poupa os hospitais) por meia hora. Esta é a
cena que dá título ao filme e que melhor define a missão de klaatu:
fazer os seres humanos deixarem de ser peças da engrenagem do sistema
por meia hora para que eles reflitam sobre sua missão. Talvez este seja o
momento que mais encantou a geração dos anos 60 (Rita Lee dizia que
encarnava Klaatu nos shows dos Mutantes e Raul Seixas tem um disco com o
mesmo título do filme), momento em que o sistema é forçado a parar
mediante uma força externa (sim, o que Klaatu faz é um atentado
terrorista, embora não fira nimguém). O ideal de parar a "máquina"
lembra um pouco o ideal anarquista da revolução pela greve geral.
Este
filme é fruto da visão que uma parcela da humanidade tem de si mesma:
um pessimismo sobre suas possibilidades de construir a paz universal e a
esperança de uma resposta dos céus. Assisti-lo é compreender um pouco
das ilusões humanas.
Aristóteles Lima Santana.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
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