Redes sociais enfrentam onda de ceticismo e
críticas
7 de
fevereiro de 2011
Jarbas Aragão
inShare11
A maneira
como as pessoas se comunicam freneticamente online usando Twitter, Facebook e
mensagens instantâneas pode ser visto como uma forma de loucura moderna,
segundo uma importante socióloga norte-americana.
“Um
comportamento que se tornou comum e ainda é capaz de expressar os problemas que
no passado nos levaram a vê-lo como patológico”, escreveu a professora Sherry
Turkle, do MIT, em seu novo livro, Alone Together [Sozinhos Juntos]. Ela
lidera um ataque à chamada “era da informação” e seu livro causou furor nos
EUA, onde foi entrevistada em talk shows conhecidos. Um dos fatos destacados
por ela é pessoas usarem smartphones durante funerais.
A tese de
Turkle é simples: a tecnologia está ameaçando dominar as nossas vidas e nos
tornar menos humanos. Mesmo proporcionando a ilusão que vamos nos comunicar
melhor, a tecnologia acaba nos isolando das interações humanas reais. Ela nos
coloca em uma realidade virtual, que é nada mais é que uma imitação medíocre do
mundo real.
No
entanto, o livro de Turkle não é o único a falar disso. Um movimento de
retaliação nos EUA está advogando uma rejeição de alguns dos valores e métodos
da comunicação moderna. “É um grande retrocesso. Os diferentes tipos de
comunicação usados pelas pessoas tornaram-se em algo assustador”, disse o
professor William Kist, especialista em educação da Universidade Estadual de
Kent, em Ohio.
A lista
de ataques às mídias sociais é longa e vem de todos os cantos do mundo
acadêmico e da cultura popular. Em um recente best-seller norte-americano, The
Shallows [Os Superficiais], Nicholas Carr sugeriu que a maneira como usamos
a internet está mudando o nosso modo de pensar, a ponto de nos tornar menos
capazes de absorver informações mais extensas e complexas, como as de livros e
artigos de revistas. O livro baseou-se em um texto que o pesquisador escreveu
na revista Atlantic. O artigo, igualmente enfático, tinha
como título: “O Google está nos deixando idiotas?”
Outra
linha de pensamento na área de ciberceticismo é vista em The Net Delusion [A
Ilusão da Rede], de Evgeny Morozov. Ele defende que as mídias sociais
produziram uma geração de ativistas passivos, ou “passivistas”. Elas deixaram
as pessoas preguiçosas e criaram a ilusão de que clicar o mouse é uma forma de
ativismo semelhante a doar dinheiro e tempo no mundo real.
Outros
livros sobre o tema são The Dumbest Generation [A Geração Mais Idiota],
de Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory – onde ele defende que “o
futuro intelectual dos EUA é sombrio” e We Have Met The Enemy [Nós
Encontramos o Inimigo], de Daniel Akst, que descreve os problemas de
autocontrole no mundo moderno, onde a proliferação de ferramentas de
comunicação acabam sendo um elemento essencial.
Esse
movimento de retaliação tem atravessado o Oceano Atlântico. Em Cyburbia, publicado na
Inglaterra no an passado, James Harkin pesquisou o
mundo tecnológico moderno e encontrou algumas possibilidades
perigosas. Embora Harkin não seja um cibercético puro, ele
encontrou muitos motivos para ficar preocupado, mas também
satisfeito com essa nova era tecnológica. Por outro lado, o
bem-sucedido filme A Rede Social é
visto como um ataque velado a essa “geração das mídias
sociais”, ao sugerir que o Facebook foi criado por
pessoas que não conseguem se encaixar no mundo real.
O livro
de Turkle, contudo, é o que tem gerado mais polêmica. É um desafio para
deixarmos o smartphone fora do nosso alcance e ignorarmos o Facebook e não
acessar o Twitter. “Nós inventamos tecnologias inspiradoras e sofisticadas, mas
ao mesmo tempo permitimos que elas nos diminuíssem”, escreveu ela.
Outros
críticos apontam para inúmeros incidentes para reforçar sua
argumentação. Recentemente, a cobertura da mídia sobre a morte de Simone
Back, moradora da cidade de Brighton, mostrou que a mensagem de suicídio
que ela postou no Facebook, foi vista por muitos de seus 1.048 “amigos” no
site. Porém, nenhum deles pediu ajuda ou fez algo a respeito. Ao invés
disso ficaram trocaram insultos através do mural do Facebook de Simone.
Porém, a
retaliação produziu outra retaliação, e muitos passaram a defender as mídias
sociais. Eles afirmam que o e-mail, o Twitter e o Facebook têm gerado mais
comunicação, não menos – especialmente entre as pessoas que podem ter
dificuldade em se encontrar no mundo real por causa de grandes distâncias ou
diferenças sociais.
Defensores
dizem que as redes são apenas uma forma diferente de comunicação e que algumas
pessoas podem ter problemas para se acostumar. ”Quando você entra em uma
ambiente e todo mundo está em silêncio diante do seu laptop, entendo que ela quer
dizer sobre não quererem falar com outras pessoa”, disse Kist. ”Mas eles
ainda estão se comunicando. Por isso discordo dela. Não acho que é uma questão
tão preto no branco.”
Alguns
especialistas acreditam que o debate tornou-se tão intenso porque as redes
sociais são um campo novo, que ainda precisa desenvolver regras e uma etiqueta
que todos possam respeitar. “Vamos ter de enfrentar isso. Não vejo nenhum sinal
que as pessoas querem se desconectar”, disse Kist.
Ele
também ressaltou que o “mundo real” a que muitos críticos das mídias sociais se
referem, nunca existiu de fato. Antes que as pessoas viajassem de ônibus ou de
trem com a cabeça enfiada na tela de um iPad ou de um smartphone, elas
geralmente viajavam em silêncio. “Não víamos as pessoas conversando
espontaneamente com estranhos. Elas simplesmente ficavam isoladas”, finalizou.
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