O CONTO
Em nossa língua portuguesa o conto designa a forma ficcional
curta. É uma história com enredo, personagens, cenas, etc. O conto pode ter uma
tensão interna com um final chocante (como em Poe) ou pode ser um relato
ficcional representando o cotidiano da vida sem necessariamente possuir essa
tensão interna (como em Tchekhov).
Na maior parte das vezes o conto utiliza-se de poucos
personagens em poucas cenas e as descrições não costumam ser muito longas. Mas
é evidente que isso não é um conjunto de regras absolutas e definitivas. O que
importa é que o conto possua um narrador, personagens e uma história a ser
contada. O narrador pode ser um eu-protagonista, um eu-testemunha, um
autor-editor, um reprodutor de uma história conhecida ou simplesmente uma voz
que tudo conhece e tudo narra na história que está sendo contada.
Os temas são variados e a escolha deles dependerá da
sensibilidade do escritor. O conto possui uma estrutura que Cortázar definiu
como “esfericidade”, ou seja, uma história com uma tensão que possui um início,
um desenvolvimento e uma conclusão que resolva essa tensão.
A prática da escrita requer, evidentemente, a prática da
leitura. Aprende-se a fazer contos lendo e fazendo contos. Ter bom conhecimento
gramatical é essencial, mas não se resume a isso a prática da escrita. Saber
criar personagens e criar um enredo instigante é a chave para uma boa história.
O enredo tem que ter um roteiro coerente, mesmo tratando-se
de literatura fantástica. Existe uma ideia original que dá o pontapé inicial
que merece ser respeitada, mesmo quando o final é surpreendente. Como criador
da obra o autor pode fazer modificações nela desde que respeite a coerência da
ideia. Reler o conto várias vezes depois de termina-lo permite corrigir
eventuais falhas ou reescrever o conto quando necessário.
Mesmo que seja uma história curta não há para o conto um
limite para o tempo ou o espaço em que a mesma esteja sendo narrada. Ela pode
acontecer em poucas horas ou milhares de anos. O espaço usado pode ser uma
pequena sala ou o Universo inteiro. É a imaginação do escritor que fará essas
escolhas serem úteis ou não para a história.
Um conto pode ou não fazer uma reflexão moral ou teórica.
Isso dependerá das intenções e escolhas do escritor. Tchekhov defendia que um
escritor deveria ser discreto em suas opiniões políticas em uma história e
Jorge Luis Borges dizia justamente o contrário. Se você quiser seguir o
conselho de Borges sinta-se à vontade, apenas tome cuidado para não criar uma
obra panfletária ridícula.
De onde virão as ideias para se criar histórias? Como as
ideias “não caem do céu” o jeito é você contentar-se com o mundo que nos
circunda. A realidade é uma fonte inesgotável de inspiração. Cenas cotidianas,
histórias que nos contam, trechos de livros que lemos, filmes que assistimos,
acontecimentos pessoais, experimentações práticas, paixão, ódio, medo, humor,
tanto faz, o mundo todo em que vivemos é um grande livro cheio de histórias.
Mas você deve estar se perguntando: por que escrever
histórias? Escrevemos e lemos história porque elas existem e nos ensinam. É
nelas que encontramos as necessidades, os medos, os exemplos de coragem e
abnegação, as forças e fraquezas da humanidade. Escrevemos histórias pelo mesmo
motivo pelo qual se fazem músicas. Ambas (música e literatura) são formas de
arte e existem artistas que fazem opção por uma ou pela outra.
Escrever é uma forma de interpretação do mundo. Uma forma de
decodifica-lo, de dialogar com ele, de aprender e ensinar novas e velhas
lições. Escrever é uma forma de intervir no mundo usando a mais poderosa das
armas: a palavra.
Aristóteles Lima Santana, 09/04/2017.